sexta-feira, outubro 29, 2004

Ser Feliz... (5)



E se a beleza de viver
Reside em momentos…

As Palavras
Que até agora leste
De ti fazem parte

Num mundo que
Crio
Que agora a ti pertence
Na nova lógica
Que lhe conferiste.

…Este momento contigo
Quis partilhar
Pois, embora nada
Possa ter dito,
Agora em ti estou…

…Querendo aí continuar.

E esse sorriso que em ti desperto…

É um belo momento,
Que desejei criar.

terça-feira, outubro 26, 2004

Arte que alcançou o 7º lugar


Elephant de Gus Van Sant

Como filmar a perda da vida no início da perda da inocência!?... De modo brutal, desencantado e directo. É assim que Gus Van Sant o entende, apresentando Elephant com essas características, onde se retrata em versão artística, e muito pessoal, o massacre no liceu Columbine.
Uma série de jovens (promissores) actores, que até à data não o eram, retratam como se vive um dia, como outro qualquer, num liceu onde nada fazia prever o desenrolar do terrível acontecimento registrado.
Além de magnificamente filmado, com longuíssimas cenas, onde a câmara se move ao ritmo das personagens, e de ter uma fotografia excelente (a luz deste filme é magnifica), com esta obra Gus Van Sant consegue ainda surpreender o espectador com a forma original de preenchimento do espaço temporal e físico; apresentando criativamente o que acontece no mesmo espaço de tempo diversos acontecimentos no espaço físico. Um grande golpe de genialidade servindo de lição de cinema para envolvidos ou apreciadores da sétima arte. 10/10

segunda-feira, outubro 25, 2004

Lyrics



NOTHING LIKE A SONG

you didn't say the words i would have said
you couldn't help the doubt that filled your head
it's just an ordinary try
we learn to live we live to die
just accept and don't ask why
my lips the form a crooked smile
giving a sign of no reply
and when you wake up freezing in a room dark and empty
well, just keep singing along
i'm not what you write in your books you know i'm nothing like a song
and will you answer me i already know
i asked you to answer but i already know
and can you come back home you already know
you don't ask because you already know
it's an unfamiliar song
you said you'd like to sing along
but you couldn't change the key
i can't sing it doesn't suit me
when i wake up freezing but know half believing
it was this i feared
because it's not just the words that you whispered in my ear
and will you answer me i already know
i asked you to answer but i already know
and can you come back home you already know
you don't ask because you already know
will you come back home

Azure Ray

domingo, outubro 24, 2004

Conto urbano contado na primeira pessoa (1/3)



Eram 4:00 da manhã quando cheguei a casa… sozinho.
Vi um filme pornográfico onde o sexo era feito de forma rude e impessoal. Numa cena em particular, dei comigo a contemplar as expressões de prazer que o rapaz que estava de pernas abertas a ser penetrado fazia e as primitivas daquele que o possuía. Ouvia gemidos que pareciam sinceros, embora desmedidos de intensidade, à medida que a violência da penetração aumentava.
Por essa altura tive uma rápida erecção. Desapertei o cinto das calças, de seguida os botões e libertei-me dos boxeurs. Comecei a acariciar-me, sentado na cadeira em frente ao ecrã do computador, sentindo a excitação no meu corpo acompanhada de um travo de insatisfação. Acariciei-me com grande intensidade e comecei a pensar exclusivamente Nele… nos olhos, na forma como me tocou, na forma como me beijou, mais uma vez nos olhos, quando deixei de controlar o meu ritmo e vim-me…
A minha reacção surpreendeu-me; não consegui conter o gemido que soltei. Um arrepio demasiado intenso percorreu por inteiro as minhas costas em direcção à cabeça, como que de uma injecção de uma droga se tratasse… Senti os músculos das pernas a contraírem-se uma, duas, três vezes… Fiquei desorientado acabando por soltar uma pequena lágrima que escorreu em direcção ao pescoço.
Voltei lentamente à realidade… Nesse momento Ele estava com outro.
Limpei-me e fui até à varanda onde me pus a fumar um cigarro e a pensar nas reacções que Ele era capaz de despertar em mim. Quando acabei de fumar senti-me esmorecer. Fui para o quarto onde alcancei uma leve sensação de segurança. Estava no meu território, no entanto a essa sensação juntou-se um grande vazio… não se encontrava ninguém à minha espera na cama para o preencher!

Manuel

sábado, outubro 23, 2004

Contos urbanos contados na primeira pessoa: X – (Blog) FIM



Seguimos no carro Dele em direcção à praia…falava comigo de forma pausada, num tom de voz suavemente arrebatador devido à forma extremamente carinhosa com que as palavras lhe saiam da boca, construindo frases que, por vezes, noutro contexto seriam completamente desinteressantes mas nesse momento todas me fascinavam completamente. E tudo isso era constantemente presenteando com um discreto sorriso densificado por uma ternura infantil irrepreensível.
Tocou na minha perna e aí deixou ficar a mão exercendo uma leve pressão que relaxava essa zona do corpo, levando-me involuntariamente a ficar com os olhos emocionados… começava a acontecer… Pus a minha mão por cima da dele e entrelaçamos levemente os dedos. Olhei-O durante o momento de silêncio que entretanto surgiu no qual se virou para mim esboçando outro sorriso... A escuridão, intercalada pela luzes laranjas dos candeeiros da estrada, não impedia de descobrir um certo brilho nos olhos Dele que me levou a dizer, precedido de um suspiro, que não sabia o que fazer com Ele... Apertou a minha mão com força e deu-me uma resposta: - Faz tudo o que achas que deves fazer, estou aqui para isso… Rimos... Apercebemo-nos que esse momento estava carregado de um romantismo infantil, um pouco ridículo até. Mas apreciávamo-lo. Acompanhava-nos algo arrebatador que os dois sentíamos; estava a apoderar-se de nós e notava-se em cada gesto, em cada cheiro, em cada diálogo… ali, naquele momento, estávamos em empatia.
Começou a dar uma música que ambos reconhecemos, surgindo dessa forma a banda sonora adequada; era o Roads dos Portishead que realçou a intensidade do momento. Comentamos o quanto gostamos da música e enquanto o fazíamos seguiu para um caminho secundário onde acabou por estacionar o carro num sítio deserto. Disse-me que já não aguentava mais… Que sentia que eu fazia parte dele.
Não existia iluminação no local, mas a escuridão não impedia de nos vermos cada vez mais nitidamente permitindo à intensidade do nosso desejo começar a revelar-se…
Levou os lábios Dele em direcção aos meus; mas antes de se encontrarem fui atingido por uma lufada contendo um aroma adocicado de um perfume misturado com o do corpo. Finalmente um contacto quente e aveludado atingiu os meus lábios e de seguida a saliva alcoolizada e fumarenta de cada um misturou-se… Parou... Tocou na minha cara e acariciou-a levemente o que contemplei até não conseguir resistir ao impulso de o beijar novamente... mais... mais... sempre intensamente.
Senti a formação de uma descarga de adrenalina a formar-se no meu cérebro que se foi propagando rapidamente para o resto do meu corpo: O prazer espiritual iniciara a sua união com o carnal com o objectivo de se tornarem um só.
Saí então do meu banco e sentei-me em cima Dele usando o volante para apoiar as costas… Todo o calor aconchegante emanado do corpo Dele entrava agora em contacto com o meu fazendo com que a tensão desaparece-se quase por completo… sentia por baixo das calças de ganga Dele o seu sexo quente. Mexi-me de forma a oferecer cada vez mais prazer… como me sentia bem nesse momento…
Desabotoei-Lhe os botões da camisa e contemplei um peito perfeito que beijei suavemente enquanto inalava fragrância que emanava… De forma segura um dedo pegou no meu queixo e levou a minha boca em direcção à Dele… Seguiu-se um prolongado beijo de grande rendição até que me encostei ao volante e fiquei a observá-lo, sorrindo, durante breves segundos. Puxou-me contra ele e abraçou-me... senti um leve arrepio no corpo dele, antes de me abraçar com mais força… e após um suspiro sussurra-me lentamente e levemente ao ouvido: - Agora sou eu que não sei o que vou fazer contigo… Senti os cabelos da minha cabeça a enriçar-se quando ouvi esta palavras…sorri… estremeci involuntariamente…
Bem… Estou a divagar novamente… Podia ter acabado assim a noite de sábado, mas de facto não foi bem assim que terminou. Deixem-me beber um cafézito e fumar um cigarro antes de ir ao meu quarto acorda-Lo para ser Ele a contar como tudo se passou.

Manuel

sábado, outubro 16, 2004

Sugestões


Back to mine de Lamb: The Voodoo Sessions

Aqui está uma boa oportunidade para nos redimimos com os Lamb. Se nos seus últimos dois trabalhos de originais não conseguiram alcançar o brilhantismo dos anteriores com esta compilação conseguem-no, dando a conhecer um belíssimo conjunto de canções que servem de inspiração para o seu projecto.
Andy Barlow, a parte da dupla responsável pela faceta instrumental, demonstra num total de 12 canções o seu bom gosto, onde estão presentes o hipnotismo, mistério, sedução e eclectismo nas mesmas doses. Estão lá Martina Topley-Bird, Dr. John, Nina Simone, Nitin Sawney no seu melhor, Chris Thomas King e Nabintou Diakite, entre outros, a prová-lo.
Não se trata de uma colectânea com base na música electrónica como estamos habituados a obter da série Back to mine, mas sim de um grupo coeso de canções que têm em comum a intenção de elevar a música a um grau de espiritualidade único onde a tensão se disfarça de descontracção. Recorre-se aos estilos musicais mais inesperados para obter esse espírito que surpreendentemente formam um conjunto fluido onde tudo parece ter saído da mesma fornalha. Dá-se assim a conhecer uma das melhores colectâneas da série Back to Mine, senão mesmo a melhor. 9/10



- Danny the Dog (original motion picture soundtrack)

É interessante observar que os fundadores de um género (o trip-hop) o continuam a operar sobre diversas perspectivas desconstruindo a forma de como foi entendido. Estamos perante mais uma obra do colectivo Massive Attack onde nos deparamos com a surpresa de nos serem apresentados temas explicitamente agressivos intercalados com outros, tal como já estamos habituados, de experimentalismo cerebral ou repletos de tensão preeminente. Mas sem dúvida que os temas que mais sobressaem são os incorporados por ritmos incansáveis onde se sobrepõem múltiplas camadas de guitarras acompanhadas de um poderosíssimo baixo repleto de intensidade. A obra em causa não sofreu em nada com o facto de ter sido pensada pormenorizadamente pois isso não impediu a revelação de um universo complexo impregnado de uma grande variedade de sentimentos (nebulosos a maior parte das vezes).
No entanto um desafio com que qualquer banda sonora se depara é o de conseguir sobreviver sem o filme. É um facto que não se consegue desligar que estamos perante uma banda sonora notando-se que todos os temas foram criados para momentos específicos de um filme (o que está em causa é Danny the Dog de Luc Besson) podendo à partida ser estranha a sequência que nos é apresentada, mas nada que o ouvido ao fim de algumas audições não se adapte (estimula-se nossa imaginação a criar o nosso próprio filme se for necessário - ouça-se enquanto se caminha sozinho durante a noite pela cidade).
E aqui está mais um disco de uns senhores que, mesmo após mais de uma década de carreira, continuam a traçar novos rumos sem no entanto perderem a génese de vista: exteriorizar criativamente o que de mais veemente se pode encontrar no ser humano. 7,5/10

Contos urbanos contados na primeira pessoa: IX



No sábado acordei com uma dor de cabeça terrível. Tinha bebido demasiado na noite anterior. A minha mãe quando viu no estado em que me encontrava não evitou pregar mais um sermão moralista chamando-me repetidamente a atenção para o facto de ter chegado mais uma vez tarde a casa. Quis saber o que tinha andado a fazer durante toda a noite. Coitada… Um esforço inútil da parte dela. Respondi que andei a divertir-me com o pessoal do costume, que acabamos por ir todos a uma discoteca e que cheguei tão tarde porque tive que esperar que alguém decidisse ir embora para me deixar em casa. Estava dependente dos meus amigos... A culpa não foi minha.
Mas… na realidade quando quero voltar para casa facilmente o faço pois tenho sempre alguém a quem recorrer a qualquer momento. E nessa sexta-feira não saí propriamente com amigos uma vez que fui conhecer pessoalmente um rapaz que me era praticamente estranho. Nem sequer acabei em nenhuma discoteca com ele. Mas também não voltei tão tarde para casa por ter ficado com ele a noite toda. Voltei quase de manhã pois nessa noite a minha saída foi finalizada por uma longa conversa com uma grande amiga.
Vou então contar o que se passou nessa noite embora deixe desde já claro que também posso contar uma versão diferente do que realmente aconteceu. Afinal de contas a minha vida só a mim me diz respeito. Sendo assim não garanto que tudo que possa dizer de facto aconteceu mas, se a curiosidade se mantém, cá vai:
Nessa sexta-feira comecei por ir ao encontro do Hugo no local combinado. Era esse o rapaz que ia conhecer. Após termos bebido um café com os irritantes amigos dele fomos embora os dois e acabamos por correr vários bares. Bebi demasiado o que a partir de certa altura da noite fez com que eu ficasse gradualmente demasiado descontraído para experimentar viver novas situações. A certa altura o Hugo sugeriu que fosse-mos até uma sauna. Já tinha ido a algumas várias vezes, mas nunca durante a noite e tinha bastante curiosidade em saber o que se passava por lá a essas horas. No entanto não estava muito seguro daquilo que ia fazer e a atitude do Hugo não ajudou em nada. Senti-me completamente posto de lado quando entramos numa das saunas da cidade o que me levou a decidir que o melhor seria arranjar uma alternativa.
Fiquei surpreendido por ver que alguns rapazes pinavam descontraidamente à frente de toda a gente. Reparei que vários deles andavam apenas à procura disso. Alguns até me despertaram bastante o interesse, o que me levou a ponderar em participar nessa espécie de orgia. Houve um em particular que me captou a atenção… Vi-o a entrar para uma sala e pus-me a imaginar o que ele iria fazer. Entretanto o Hugo sugeriu irmos para um quarto escuro. Era precisamente para essa divisão que o tal rapaz tinha ido mas quando nos dirigimos para lá saiu e veio na nossa direcção. Cruzou-se comigo e notei que reparou em mim… Observou-me atentamente nesse curto espaço de tempo. Fiz o mesmo com ele. No entanto ambos seguimos o nosso caminho… Inconformado acabei por ir mais longe… Antes de entrar no quarto escuro procurei-o com o olhar e ao encontrá-lo fiz com a cabeça um aceno convidativo para que ele voltasse novamente ao sítio que tinha acabado de deixar. Fechei lentamente a porta para ver se o convite era aceite. Fiquei com impressão de ser bem sucedido, ele tinha sorrido para mim. Deixei que a porta se fechasse totalmente. Sem querer acabei por ir contra o Hugo, a reacção e a forma ríspida com que me disse para ter cuidado fez com que deixa-se de lhe prestar a mínima atenção o resto da noite e nem sequer me dei ao trabalho de lhe responder.
Senti-me então perto da porta e fiquei à espera que o tal rapaz jeitoso entrasse.

Marco

Contos urbanos contados na primeira pessoa: VIII



Fiquei estupefacto com a frieza do Jorge quando cheguei junto dele… Nem sequer mencionou o que se tinha passado há pouco tempo atrás durante o percurso que fizemos nos nossos carros até à praia. Agia como se nada tivesse acontecido. Quando lhe perguntei porque não estacionou para ver se me tinha acontecido alguma coisa apenas se virou para mim e disse para ter calma, que tudo correu bem, que além disso, estava ali nesse momento por isso não era necessário estar a dramatizar a situação. Disse que o melhor era acalmar-me e que tinha com ele justamente o que era preciso… e continuou a fazer o charro de forma precisa e muito cuidadosa. Disse-lhe então para o fazer bem forte, que estava mesmo a precisar de descontrair. Não consegui continuar chateado com ele. O timbre de voz dele e a forma pausada e serena como falava persuadiram-me deixando-me bastante impotente para iniciar uma discussão. Fez-me um gesto de carinho… pôs-me a mão no ombro e massajou-o levemente mas com firmeza. Devido à forma de ele estar e à atitude com que continuou a partir desse momento parecia que gostava de estar ali comigo, embora de vez em quando me desse a sensação que algo não estava bem… que se encontrava distante.
Quando finalmente acendeu o charro e inspirou visceralmente a primeira baforada de fumo reteve-o profundamente, ficando com o olhar preso na direcção do mar… quando o libertou deitou-se para traz. Desta vez ficou a olhar para o céu enquanto continuava a inspirar e expirar vezes consecutivas aquele fumo inebriante.
Fez-se silêncio… após algum quebrei-o perguntando-lhe se ia fumar tudo sozinho. Apercebi-me que o trouxe de volta de um pensamento que o retinha ausente dali. Ao ouvir a pergunta, reagiu como se tivesse de voltado à realidade e olhou para mim como se fosse estranho eu estar ali ao seu lado.
Passou-me então o charro... antes de fumar fiz o mesmo que ele… deitei-me de costas na areia… aquela ganza era óptima… tinha um sabor bastante adocicado e sentia o fumo a passar pela minha garganta de forma tão suave que me levou a dar várias passas consecutivas retendo cada vez mais e mais quantidade desse fumo dentro de mim… o efeito fez-se notar rapidamente. Bateu-me com tal intensidade que dei por mim de um momento para o outro a tentar controlar determinados impulsos involuntários. Mas desisti rapidamente. Deixei-me descontrair por completo enquanto olhava para o céu e via todas aquelas estrelas a brilhar entre a neblina; dei por mim a interrogar-me se sempre ali estiveram. Achei esses pontos luminosos estranhos… como se fizessem parte de uma enorme manta negra esburacada que protegia o nosso mundo e que apenas deixava passar raios de luz de um universo paralelo onde apenas existia uma claridade tão intensa que seria impossível vê-la como um todo. Ouvia o som do mar cada vez mais distante sendo contrariado por um eco que aumentava gradualmente cada vez que uma onda estava preste e desfazer-se na areia da praia até que finalmente se transformava no estrondo do abatimento que mais se assemelhava a uma violenta explosão. E sentia toda aquela areia a fazer-me formigueiro nas costas através da camisa provocando-me uma sensação estranhamente agradável.
Senti então uma mão na minha barriga a desapertar os botões da minha camisa que depois me começou a fazer festas no ventre… dirigiu-se para baixo; meteu-se debaixo das minhas calças e ficou por lá durante uns minutos fazendo movimentos regulares. Olhei para o Jorge e sorri… deixei-o continuar durante mais algum tempo antes de o começar a beijar… Quando o fiz despertaram em mim uma série de sensações redobradas de intensidade o que me levou a despi-lo o mais depressa possível para fazermos sexo rapidamente… e foi isso que fizemos de seguida…

José

Contos urbanos contados na primeira pessoa: VII



Estava farta de fazer o papel de loira. Quando conversamos ao telemóvel falou-me, mais uma vez, de forma simpática com muitas pausas pelo meio como se hesitasse dizer algo. Falou num tom de voz devidamente estudado para situações idênticas a essa, o que previa uma desculpa bem elaborada por causa de algo que a ultrapassava, não podendo estar comigo por esse motivo (se soubesse que não me dá nenhuma surpresa quando chega a essa parte). Começou por contar-me meias verdades, a tocar em assuntos ao de leve fugindo logo com a conversa noutras direcções… Já sabia o que me esperava. Mas será assim tão difícil fazer entende-la que me custa menos aceitar a verdade em vez de uma mentira? Será que não se apercebe o quanto isso faz desaparecer pouco a pouco a magia que emana tendo atitudes como essa?
Não a deixei continuar… antes de ela chegar à parte da desculpa disse-lhe que essa noite não ia sair, que tinha sido um dia muito cansativo para mim e que precisava de descansar. Custou-me dizer-lho, lembro-me da minha mão, que segurava o telemóvel, começar a tremer e de me virem as lágrimas aos olhos. Ela aceitou o facto de imediato, notei um pouco de alívio na sua voz, e disse-me que também ia aproveitar para descansar, que no sábado sairíamos as duas e que nos “divertiríamos à brava”.
Mas nessa noite acabei por não me conformar, decidi tirar as minhas dúvidas. Estava a começar a ficar cansada de estar com ela só quando lhe dava jeito ou lhe apetecia. Não conseguia adormecer, a conversa que tinha tido com ela ao telemóvel não me saía da cabeça…
Ansiosa e perturbada, decidi ir até ao bar onde sabia que a ia encontrar. Todo o meu corpo tremia antes de entrar, sentia-me mal por estar a provocar uma situação dessas… Quando entrei encontrei-a com aquela rapariga que nas últimas semanas tinha sido tantas vezes alvo das nossas conversas. Lá estavam elas… ambas de costas para mim a falar animadamente e a dar grandes gargalhadas. A outra de vez em quando punha-lhe a mão na zona do corpo que mais próxima se encontrava e ela nem sequer estremecia, … nem sequer tentava afastar-se da mão.
Fiquei como uma estátua a olhar para elas… a começar a deixar de conseguir controlar as lágrimas… Passava-me pela cabeça que as mulheres são todas iguais até que um empregado interrompe este pensamento perguntando-me se precisava de uma mesa… olho para ele… não lhe digo nada… pergunta-me se estava bem ao qual respondi agressivamente mas de modo contido… Pareço-lhe estar!?... E saí do bar… Refugiei-me num sítio isolado qualquer tentando controlar os soluços… sentia uma dor enorme no meu estômago como se alguém não parasse de o apunhalar vezes e vezes consecutivas. E sentia raiva ao mesmo tempo… apetecia-me entrar pelo bar a dentro, puxar pelos cabelos da outra (arrancá-los fio a fio), chegar ao pé dela e perguntar-lhe: é por isto que me estás a trocar?... Faz bom proveito e se feliz…
Mas não o fiz… não sei se por me faltar coragem ou se por se ter ido quando recebi uma mensagem no telemóvel a pedirem a minha ajuda… O melhor seria mesmo ir embora para ver se entretanto me acalmava. Peguei na minha moto e pus-me a caminho. Segui a grande velocidade como se tentasse deixar a minha fúria ficar para traz com vento… mas não ficava, não conseguia deixar de pensar no que tinha visto até ao momento em que o meu instinto de sobrevivência foi obrigado a despertar… apareceram dois carros... um deles vinha na minha faixa na minha direcção… Senti a adrenalina a apodera-se do meu corpo, só tive tempo de agir. A única decisão que consegui tomar foi a de me meter entre os dois carros… fui bem sucedida… o que vinha na minha direcção parou… consegui fazer o mesmo a poucos metros de distância… estive para me dirigir em direcção ao condutor e descarregar toda a minha fúria em cima dele… mas não o fiz, senti o telemóvel a vibrar no bolso, ainda existia alguém a precisar de mim… da minha ajuda. Não podia perder mais tempo, não vi quem era, só podia ser uma pessoa a ligar-me a essas horas… fiz um pirete e segui para o meu destino o mais depressa que me era possível.

Sofia

Contos urbanos contados na primeira pessoa: VI



Entramos em acção pouco tempo depois de termos acabado de fumar. Sentia a humidade no corpo o que me provocava um certo desconforto, mas não me impedia de continuar, afinal de contas estava a precisar de sexo. Fodemos até eu estar farto. Não conseguia sentir nenhum perfume a sair do corpo dele, o que me ia a tirando tesão aos poucos e me levou a ter um breve momento de lucidez. Interroguei-me por breves instantes o que estava ali a fazer. Esse pensamento fez-me sentir ridículo. Decidi masturba-lo para se vir mais rapidamente e poder ir-me embora.
Acabou por vir-se mais rápido do que estava à espera. Senti um grande alívio e uma leve satisfação. Quando sai de cima dele, disse-me que tinha gostado muito o que me levou a dizer que ainda bem e que também tinha gostado. Sorri orgulhosamente! Comecei a vestir-me... ele imitou-me logo de seguida. A roupa estava cheia de areia, mas não estava com disposição de a sacudir demasiado, porque queria ir-me embora de uma vez por todas daquele sítio.
Estava a começar a amanhecer, o nevoeiro estava muito denso, comecei a sentir um leve cheiro a peixe o que me deixou bastante incomodado. Quando acabei, dei-lhe um beijo e disse-lhe que tinha gostado de estar com ele e que um dia destes lhe telefonava para tomarmos um cafezito.
Fui para o carro, sentei-me, e tentei lembrar-me de como tinha ido parar à praia com o José, (era assim que se chamava?) … Deixem-me confirmar no telemóvel… Sim José, é isso mesmo… Tenho que lhe telefonar um dia destes…
Bem onde ia eu? Já sei… Na altura não consegui reconstruir a história, mas hoje já sou capaz! Depois de Ele ter ido embora da discoteca, para me livrar do gajo que “atropelei”, disse-lhe que estava de saída com o José o qual concordou de imediato quando lhe disse: - Vamos?
Quando nos encontrávamos na rua em direcção aos nossos carros, que por coincidência se encontravam estacionados na mesma zona, passamos em frente de uma rullote, o que me provocou imediatamente uma fome incrível. Propus-lhe irmos comer um cachorro. Foi o que fizemos, acompanhando com mais uma cerveja. Enquanto isso o José continuava a “fazer-se” bastante. Acabamos por ficar mais algum tempo na conversa. Enquanto falava, ia sorrindo e fazendo um gesto de carinho de vez em quando o que o deixava ainda mais entusiasmado. Estava a gostar de o ver interessado, achei-o querido, o que me levou a incentiva-lo a que demonstra-se o que de melhor havia nele, e de bom para oferecer. Propôs-me ir até à praia. Gostei da ideia. Disse-lhe para seguir o meu carro, que eu conhecia um atalho. Mas o meu entusiasmo começou a diminuir de intensidade até que a dada altura me tentei livrar dele fazendo com que se despistasse ou que parasse em algum semáforo vermelho. Não consegui…
Durante a viagem passamos em frente ao prédio Dele. Parei por breves instantes, pareceu-me vê-lO à varanda. Sim, era o apartamento Dele. Lá estava Ele a fumar mais um cigarro. Em que estaria a pensar? Será que me reconheceu? Não sei…
Quando vi o carro do José ao meu lado, lembrei-me porque estava ali e continuei em direcção à praia completamente desmotivado. Quando cheguei dirigi-me lentamente para o mar e dei comigo a pensar se não teria sido bom que ele tivesse tido um acidente quando a mota foi na direcção dele. Não teve! Ouvi-o a chamar por mim quando isso me passava pela cabeça.
Enquanto o deixava vir ao meu encontro decidi fazer uma ganza. Já que tínhamos chegado até ali e como ele tem um corpo do tipo que eu gosto decidi que devíamos dar uma “trepa”… Porque não?

Jorge

Contos urbanos contados na primeira pessoa: V



Passei pelo Manuel, parecia chateado. Tentei saber o que se passava com ele mas não quis falar sobre isso, seja como for já estou habituado a vê-lo com essa atitude de que nada lhe corre bem nada na vida, "é uma trágica essa gaja"… despachou-me rapidamente e ainda bem. Segui até à sauna na companhia do Marco, estava a divertir-me com ele e era isso que importava. Conheci o Marco durante essa semana na Internet, conversamos duas vezes num chat, mas pessoalmente era a primeira vez.
Achei-o girinho, mas nada de especial. Encontramo-nos depois de jantar num jardim perto do café onde habitualmente iniciamos as noitadas de sexta-feira, e onde fomos após uma breve conversa. Quando chegamos, apresentei-o aos meus amigos que já se encontravam todos lá conforme o combinado, excepto o Manuel. Lembro-me perfeitamente das expressões e dos sorrisos que trocaram todos, que sugeriam que vinha com mais um engate, como se já estivessem à espera que isso acontecesse.
De facto já o tinha feito muitas vezes. Mas o único que realmente fez um ar reprovador foi, para não variar, o Manuel quando chegou, pouco tempo depois nós. Passou o tempo a olhar para a mesa mais central do café, em direcção a um rapaz de olhos azuis, com quem eu já tinha fodido (e que não me consigo lembrar do nome).
Muitas piadas foram feitas à minha custa e do Marco. Vendo que a situação o intimidava, não ficamos muito mais tempo, fomos embora após tomarmos café.
Corremos vários bares. No início da noite o Marco teve tendência a ser um pouco chato, começou a contar histórias de pessoas que não conheço… que treta! Durante algum tempo não parou de falar de amigos que andavam com desilusões amorosas. Que vinham chorar no seu ombro e que já não sabia o que fazer. Farto dessa conversa digo-lhe para começar a andar com um pacote de lenços de papel. Riu-se e não falou mais deles. Começamos a falar de sexo, aquilo que mais nos estimula a esse nível. Embora ele estivesse muito à vontade para falar sobre isso, parecia-me um pouco inexperiente. Era daqueles que pensava que já experimentara de tudo. Para tirar as dúvidas sugeri irmos até à sauna. Ele nunca tinha ido a nenhuma e decidi mostrar-lhe como eram. Mostrou-se indeciso e negou à primeira. Não foi preciso muito para o fazer mudar de ideias, bebemos mais um shot e propus novamente a ida o que, com um sorriso alcoolizado, foi aceite de imediato.
O Marco queria mostrar que também era capaz, embora fosse bem evidente que sem o efeito do alcóol e de um impulso, não tivesse coragem para o fazer. Mal entramos na porta do edifício comecei a ter uma leve erecção, que assim se manteve até me despir. Aumentou nesse momento, não a tentei esconder e não pus nenhuma toalha à cintura. O Marco quando me viu assim, olhou primeiro para a minha pixa e depois em direcção à minha cara e riu-se. Fiz o mesmo… Reparei que a natureza tinha sido um pouco madrasta com ele, tinha uma pixota mediana. O que não me deixou muito contente. A humidade e o calor do ar acompanhado por todos aqueles homens era o suficiente para estar satisfeito e cada vez com mais tusa. Olhava em forma de convite para todos os que tinham "aquele" bacamarte, estava mesmo a precisar que me "rebentassem".
Fiz a sugestão de irmos para um quarto escuro para estarmos mais à vontade, mas tive de a repetir, pois o Marco estava distraído a olhar para um par de rapazes, em que um estava de joelhos a fazer um broxe a outro. Dei-lhe um encontrão para me prestar atenção e quando voltei a sugerir a ida, aceitou imediatamente… Deu para ver como ficou entusiasmado. Quando entramos num dos quartos escuros parecia estar bastante concorrido o local, o que me deixou contente.
Quando fechou a porta foi contra mim. Disse-lhe com voz de chateado para ver onde punha os pés, sentando-me de seguida. Não passou muito tempo para se iniciar a acção…

Hugo

Contos urbanos contados na primeira pessoa: IV



Quando saí do bar ainda esperei por Ele enquanto fumava um cigarro. Fiquei à espera um pouco mais abaixo (da saída da discoteca) encostado à parede enquanto pensava no que tinha acabado de acontecer. Estava a custar-me aceitar o facto de O ver conversar tão entusiasticamente com outra pessoa. Seria eu apenas mais um engate? Eu não O via dessa forma, tinha criado a ilusão que Ele também não me via assim. Não apareceu… confuso e um pouco magoado decidi ir para casa.
Enquanto me dirigia ao carro, encontrei duas caras conhecidas, perguntaram se estava bem, respondi que sim, não me estava a apetecer partilhar o que estava a sentir naquele momento. Mantivemos uma breve conversa de circunstância e segui o meu destino, enquanto continuaram alegremente para a sauna.
Quando cheguei a casa não estava cansado, muito pelo contrário, estava demasiado à alerta, demasiado frustrado, sentia a impotência a apoderar-se de todo o meu corpo. Nessa noite tinha falhado. Ainda não tinha conseguido. Incomodava-me o facto de ser visto como mais um, sobretudo estando Ele em questão. Mas ao mesmo tempo pensava demasiado em todo o contacto que ouve, excitavam-me estes pensamentos.
Na falta de melhor alternativa decidi ir até à Internet ver um pouco de pornografia, de certeza que iria acalmar se me masturba-se antes de deitar… foi o que fiz, descarreguei um vídeo onde o sexo era rude e impessoal. Olhava para a expressão da cara de ambos, da de prazer do rapaz que estava de pernas abertas a ser penetrado e para a primitiva do que o possuía. Os gemidos pareciam sinceros aumentando de intensidade à medida que o activo penetrava com cada vez mais violência. A junção do que estava a ver com o que tinha acontecido fez-me rapidamente ter uma erecção. Desapertei o cinto das calças e de seguida os botões, libertei-me dos boxeurs e comecei a acariciar-me sentado na cadeira em frente ao ecrã do computador, sentia a excitação no meu corpo acompanhada de um travo de insatisfação. Acariciava-me cada vez com mais intensidade e comecei a pensar exclusivamente Nele, e quanto mais pensava mais perto de me vir me encontrava, pensava nos olhos Dele, na forma como me tocou, na forma como me beijou, mais uma vez nos seus olhos quando deixei de controlar o ritmo e vim-me… Fiquei surpreendido com a minha reacção, não consegui controlar o gemido que soltei, senti um arrepio demasiado intenso a percorrer toda a espinha em direcção à cabeça, como que de uma injecção de uma droga se tratasse, senti os músculos das pernas a contraírem-se uma, duas, três vezes. Fiquei desorientado. Soltei uma lágrima que me escorreu pela face em direcção ao pescoço e voltei lentamente à realidade… Ele neste momento estava com outro. Limpei-me e fui até à varanda onde me pus a fumar mais um cigarro e a pensar nas reacções que Ele era capaz de me provocar. Os meus pensamentos foram interrompidos por dois carros que pararam lado a lado em frente ao edifício, onde ficaram assim por breves instantes, não reconheci nenhum deles. Passado pouco tempo passou uma mota a alta velocidade, e foi por essa altura que acabei de fumar o último cigarro da noite, senti-me esmorecer, fui para o quarto onde alcancei uma leve sensação de segurança. Estava no meu território, no entanto a essa sensação juntou-se um grande vazio… não se encontrava ninguém à minha espera na cama para o preencher!

Manuel

Contos urbanos contados na primeira pessoa: III



Tive alguma dificuldade em seguir o Jorge, que conduzia como um louco a fugir de algum pensamento que o atormentava. O caminho foi quase todo feito numa média de 100 km/h o que naquela zona da cidade era complicado de se fazer devido à enorme quantidade de semáforos que surgiam pelo caminho… muitos amarelos foram passados por ele e alguns vermelhos por mim. Seja como for essa adrenalina excitava-me cada vez mais. No entanto houve uma redução brusca de velocidade de um momento para o outro, numa zona onde podíamos ter chegado aos 150 km/h sem grande esforço, à qual se seguiu um estacionamento em plena estrada.
Parei o meu carro em contra mão ao lado do dele e fui encontra-lo a olhar para um edifício à nossa esquerda na direcção do quinto andar onde se via com alguma dificuldade a silhueta de uma pessoa que levava de vez em quando um cigarro à boca não dando para aperceber de quem se tratava, pois embora fossem altas horas da madrugada ainda não tinha amanhecido, naquela noite quente de Julho. Esteve assim durante três a quatro segundos antes de se virar para mim e, lançando um resignado olhar sorridente, arrancou novamente a alta velocidade. Continuando em contra mão persegui-o de imediato até que consegui por o meu carro a par do dele, mas ao fim de escassos segundos, fui obrigado a uma travagem brusca devido a uma mota que vinha a grande velocidade na minha direcção. Ele não reduziu a velocidade. Vi o carro a desaparecer entre o clarão de luz que vinha ao meu encontro enquanto sentia por todo o meu tronco a pressão exercida pelo sinto de segurança…
Deixei de ver o que quer que fosse além de toda aquela claridade, fechei os olhos e de repente nada… apenas escuridão à qual se juntou o silêncio após uma dura travagem que cortou o ar com um som estridente. Respirei fundo e abri os olhos como se tivesse acordado naquele momento. Com dificuldade comecei a distinguir novamente tudo que me rodeava, olho pelo retrovisor, o condutor da mota conseguiu desviar-se da rota do meu carro passando pelo meu lado direito, e vejo ser-me enviado um pirete. Nesse instante recuperei rapidamente os sentidos, ficando completamente à alerta enquanto sentia todo o efeito do álcool a esvanecer-se. A mota foi-se e eu voltei para a faixa correcta conduzindo furioso o mais depressa que me era possível até que, passado cerca de dez minutos, encontro o carro do Jorge estacionado na berma, reparei que não se encontrava ninguém dentro. Estaciono poucos metros à frente, saí do carro e olho em direcção à praia onde vejo alguém a caminhar em direcção ao mar, supus que era ele. Chamo-o mas não obtive resposta e então decidi ir na direcção dele para não o perder de vista devido ao denso nevoeiro que se estava a levantar.
O vulto sentou-se na areia o que me fez acelerar o passo para ver se reconhecia o rosto o mais depressa possível, quando reparei num isqueiro a ser aceso várias vezes consecutivas. Provavelmente era o mesmo isqueiro que serviu para acender o meu cigarro antes do moreno ter aparecido e muitas outras depois de se ter ido embora. Aproximei-me sentindo um cheiro adocicado no ar, até que reconheci o rosto e o isqueiro, e enquanto olhava para as mãos dele, disse-me: - vamos estimular a imaginação!

José

Contos urbanos contados na primeira pessoa: II



Nessa noite não fodemos…. Virou-se para mim e disse-me que precisava de ir à casa de banho deixando-me de seguida. Esperei cerca de vinte minutos pelo regresso Dele, mas não voltava, então dirigi-me ao bar onde pedi uma vodka limão, pois precisava de descontrair um pouco. Tinha sido bastante intenso o que aconteceu deixando-me ansioso o facto de ter sido abandonado.
Enquanto esperava pela minha bebida acendi mais um cigarro percorrendo varias vezes o local com o olhar para ver se O encontrava, mas nada. Reflecti um pouco sobre o que tinha acontecido, mas não durante muito tempo uma vez que os meus pensamentos foram interrompidos por alguém que me pediu lume, olhei para o rapaz directamente nos olhos e reconheci-o, o que me fez sorrir cinicamente enquanto procurava no meu bolso o isqueiro, que ao fim de pouco segundos se encontrava nas suas mãos sendo devolvido juntamente com o comentário: - vejo que o teu amigo conseguiu resistir-me e aos teus olhos azuis mas eu não sou tão forte quanto ele. Sorri; é sempre bom ser engatado, confesso que me levanta bastante a auto estima, iniciei uma conversa com o rapaz até que O vi a vir na minha direcção, olhando para o intruso ao meu lado com uma expressão interrogativa, que de seguida foi trocada por outra dotada de uma seriedade que até então nunca tinha sido manifestada perante mim. Reparei que os dois ficaram sem saber muito bem como reagir mas Ele, como sempre, com uma atitude calma, embora desta vez mantida com um pouco de esforço, aproximou-se de mim e disse-me que a sua demora se deveu à fila enorme que estava para ir à casa de banho e que quando finalmente tinha conseguido mijar, encontrou um conhecido que não o largou até quase lhe vomitar em cima. Após me ter dito isso esboçou um sorriso forçado, olha de lado para o rapaz e disse-me que se ia embora. Propus sair com Ele mas obtive uma resposta negativa acompanhada da última frase que me dirigiu nessa noite: - vejo que há pouco o devia ter deixado participar. Olhou primeiro para mim, depois para o rapaz, e antes que eu tivesse alguma reacção virou-se e dirigiu-se para a caixa de pagamento. Tentei ir ou seu encontro mas fui impedido por uma mão que me prendeu, dei meia volta um pouco irritado enquanto me libertava calmamente, olhei para o rapaz e disse-lhe que conversaríamos noutra altura o que foi aceite com um aceno de cabeça acompanhado de um enorme sorriso, virei-me bruscamente em direcção à caixa, mas devia ter controlado esse impulso que foi seguido de um único passo antes de ter uma quantidade incrível de cerveja em cima e de alguém a olhar para mim com uma cara ameaçadora acompanhada de uma chamada de atenção para ver por onde ando. Mas essa cara rapidamente mudou de expressão… era o um conhecido meu, integrado no grupo daqueles que pensam que ficam nossos amigos após se ter ido uma vez para a cama com eles, que começou entusiasticamente a falar comigo.
Enquanto isto acontecia, olho em direcção à porta de saída… vejo-O a ir-se embora sem se virar uma única vez na minha direcção. Não me restou mais nada a não ser acalmar enquanto ouvia vezes sem conta o quanto uma noite qualquer tinha sido inesquecível, o quanto é incrível o meu sedoso cabelo castanho, o meu bronze e o meu corpo tonificado.

Jorge

Contos urbanos contados na primeira pessoa: I



Mais uma vez cá estou eu isolado em minha casa a fumar um cigarro e a pensar sobre o que de emocionante aconteceu comigo nestes últimos dias. Sou um rapaz com vinte e três anos, de estatura média, moreno, a precisar de sair de casa para apanhar um pouco de bronze. Se vos interessar este pormenor, sou homossexual. Mas deixo de lado, por agora, as descrições pois o que me interessa é partilhar convosco a minha experiência de sexta-feira passada. Tal como todas as sextas saí à noite indo parar à discoteca, que habitualmente frequento, acompanhado de um grupo reduzido de amigos que me foram abandonado com os engates que entretanto fizeram. Pela altura em que todos eles já me tinham deixado sozinho, e me encontrava mais embriagado do que devia, ainda haviam disponíveis dezenas de rapazes bonitos e sensuais, naquela forma pré-estabelecida aprendida em lugares comuns o que me transmitia a sensação que nada de novo se passava. Entretanto surge um atrás de mim, que me diz que não entendia porque é que o gajo mais bonito do sítio continuava sozinho a essas horas da noite; olhei para ele, e embora servisse para ter uma noite excitante de sexo simplesmente respondi a primeira coisa que me passou pela cabeça: - porque posso escolher. Bastante presunçoso, admito, mas a minha mente encontrava-se noutro sítio. Nessa noite dançava na pista aquele rapaz com o qual já tinha cruzado várias vezes o olhar e com quem já tinha conversado outras tantas sobre assuntos de uma futilidade extrema, mas que revelavam uma personalidade coerente, no entanto ainda não tinha acontecido nenhum contacto físico mais íntimo embora fosse bem evidente, de ambas as partes, que a tensão eminente para que isso acontecesse era mais que muita. Mas gostava do facto que isso se mantivesse assim. Talvez o mais interessante que estava a acontecer entre nós fosse essa ausência de contacto físico; transmitia algum carisma da parte dele. Afinal não… o mais interessante acabou por se revelar mais tarde. Já o tinha perdido de vista à bastante tempo e já estava farto de ouvir música sem grande substância estando prestes a ir embora quando alguém surge por trás de mim e sussurra ao meu ouvido: - excita-me o facto de te poder ter e de não o fazer, mas hoje quero-te. Viro levemente a cabeça e vejo que era ele, sorri e encostei-me o mais possível, estiquei o pescoço, o qual começou a beijar levemente como se tivesse medo que a qualquer momento estilhaça-se, abraçou-me e tocou-me na maior parte das zonas sensíveis do meu corpo. Excitou-me imenso tudo isso o que me levou a roçar várias vezes no sexo dele. Estivemos cerca de meia hora assim, dançado ao ritmo de uma música que o DJ não passava até que apareceu alguém à minha frente e me perguntou se podia juntar-se a nós. Eu sorri... e encostando levemente os lábios ao ouvido do intruso disse: - não fazes parte deste mundo.

Manuel

Voluptuosidade cinematográfica


Ken Park de Larry Clark

Voluptuosidade cinematográfica


O Fantasma de João Pedro Rodrigues

Voluptuosidade cinematográfica


eXistenZ de David Cronenberg



Ley del desejo de Pedro Almodovar



Mulholland Dr. de David Lynch

LINK LINK LINK

Aqui fica uma dezena de links de sites que aconselho vivamente visitar. Tratam-se de páginas de artistas musicais aos quais deixo aqui o merecido reconhecimento graças à grande qualidade da sua obra e pelo facto de quase todos eles não serem conhecidos por parte do grande público.

Descubram então estas "meninas":


Azure Ray


Beth Gibbons


Dani Ciciliano


Hope Sandoval


Martina Topley Bird


…e estes "meninos"!



Cinematic Orchestra


Giant Sand


Sigur Ros


Sparklehorse


Tricky

Espero que gostem do que podem vir a descobrir.

Década de 90 revisitada


Tori Amos – Boys for Pele

Com Boys For Pele Tori Amos registou um dos discos mais intimistas revelado na década de 90 onde o piano serve de espinha dorsal a uma fera que nos ataca profundamente a alma tal a entrega conseguida ao longo das dezoito músicas que o constituem.
A delicadeza aparece de mão dadas com a revolta na procura de um lugar para exorcizar uma série de experiências amarguradas que atingem um ser impotente (para as evitar) restando-lhe assim lidar com elas de forma introspectiva até o encontrar. Esse lugar reside nesta obra onde a existe dificuldade em encontrar um texto lógico e coerente que seja suficiente para exprimir um mundo interior que mesmo assim consegue manter-se sensível sobretudo à beleza bucólica do mundo exterior que o rodeia. Recorresse então à utilização de uma série metáforas, de frases soltas e por vezes inacabadas e de pensamentos fantasiados (por vezes absurdos) ligados à natureza, aos animais, à religião, à sexualidade, aos homens, à mulher enquanto mulher, à maternidade, à amizade, e ainda a objectos encontrando-se dessa forma um meio alternativo para explicar o turbilhão de emoções que assolaram até aí o ser em questão.
Mas a maior valia encontra-se na forma como também se conseguiu limpidamente deixar registada a sobriedade atingida após o exorcismo conseguindo-se alcançar um estado de alma lúcido e em paz chegando-se à conclusão que todas as experiências pelas quais se passou tornou esse ser mais forte e sem medo de continuar em frente.
Sozinha na composição para piano e cravo, na escrita das canções e na produção deste disco onde um vasto leque de músicos a acompanham harmoniosamente é sem dúvida admirável o que Tori Amos conseguiu alcançar. 10/10

Década de 90 revisitada


Portishead – Dummy

O álbum que deu a conhecer ao mundo a perturbante e dramática voz de Beth Gibbons. Falar dos anos 90 sem referenciar este registo seria o mesmo que excluir uma das obras mais elegantes e sensuais desta década. Trata-se de um disco extremamente denso revestido de várias camadas que permitem descortinar pequenas subtilezas em cada audição. Com fortes influências do Jazz e das batidas downtempo do trip-hop Gibbons, Adrian Utley e Geoff Barrow criaram uma obra seminal fumarenta, evocativa de mundos de filmes do género Noir. No entanto existe aqui também espaço para respirar, evocam-se tempos de uma juventude vivida no campo (a pureza e brilho que este pode proporcionar), chegando, em determinados casos, a deixar-se registado marcas de uma memória nostálgica que deixa transparecer, de modo resignado, a inocência que lá ficou. De forma resignada cantam-se também determinadas relações amorosas que se foram, no entanto a procura da satisfação neste território não cessa, muito pelo contrário, ganha-se maturidade com essas experiências e está-se disposto a viver novas, sempre em pleno, mas desta vez com um grau de exigência mais refinado o que poderá dificultar o aparecimento delas. Um disco onde se cantam vivências de uma metrópole nocturna mas com o campo por perto a servir de refúgio se necessário. Marcadamente profundo. 10/10

Década de 90 revisitada


PJ Harvey – Rid of Me

Como se lida com a situação de perder alguém que é essencial ao nosso íntimo? Grita-se desesperadamente, implora-se, tenta-se mostrar o que a outra pessoa vai perder:
“I beg you, my darling\ Don't leave me, I'm hurting\ Lick my legs I'm on fire\ Lick my legs of desire\ I'll tie your legs\ Keep you against my chest\ Oh, you're not rid of me\ Yeah, you're not rid of me\ I'll make you lick my injuries\ I'm gonna twist your head off, see\ Till you say don't you wish you never never met her?”. Tem-se consciência do sucedido mas ainda se sente a necessidade de entrega e de reaver quem parte… tem-se coragem para admitir isso? PJ Harvey tem. Coragem e honestidade serão provavelmente as palavras que melhor podem definir a obra desta senhora. Neste álbum canta-se a perda mas não só, canta-se também a audácia, a fragilidade e a perversão. Toda a obra de PJ Harvey é trespassada por estes aspectos mas nunca como em Rid of Me é nos dado a conhecer de uma forma tão primitiva e tão grotesca simultaneamente adocicada com o veludo que só uma grande voz é capaz de alcançar... Berra-se desalmadamente para exorcizar a dor, para lidar com a inconformidade, para mostrar que sé é forte, admite-se a realidade tendo coragem de a enfrentar marcando uma posição… Aqui revelasse e despoja-se a alma da forma mais directa possível. Com um conjunto reduzido de músicos que exemplarmente encontram no caos e no ruído a melodia, Robert Ellis na secção rítmica e coros; Steven Vaughan no baixo; que acompanham Harvey na voz, guitarra, violoncelo, violino, e órgão, reinventam-se os blues dando origem uma obra-prima justamente reconhecida pela crítica mundial especializada como sendo um dos melhores álbuns dos anos 90. Pode ser um álbum rude mas pode oferecer uma empatia total. Para ouvir solitariamente. 10/10

Arte que alcançou o 7º lugar


Mulholland Dr. de David Lynch

Mulholland Dr. confirma definitivamente David Lynch como sendo um grande mestre da subtileza, sensualidade, elegância e complexidade. A revolução cinematográfica passa por este senhor que pouco se importa se a plateia vai gostar, e sequer se vai entender ou não, cada filme que dá a conhecer. Esta obra não foge à excepção reflectindo-se nela todas as obsessões de filmes anteriores mas desta vez, mais que nunca, coexistindo de forma harmoniosa.
Lynch dá a conhecer a sua visão de Hollywood onde a falsidade e a superficialidade no mundo do cinema coabitam simultaneamente com a beleza. De forma atraente, poética e muitas vezes inexplicável recorre-se a metáforas sobre identidades trocadas como que necessárias para explicar um lugar confuso, surpreendente e perigoso.
Trata-se de um filme onde coexistem no mesmo espaço um sentido de humor apurado, angústia e ainda “uma história de amor na cidade dos sonhos”; criando desta forma um universo singular e fascinante onde se movem personagens encarnadas por Naomi Watts, Justin Theroux, Laura Harring, Ann Miller, Robert Forster e Brent Briscoe que nos dão a conhecer interpretações inesquecíveis.
E assim se fez cinema. 10/10

Arte que alcançou o 7º lugar


Crash de David Cronenberg

“Escritor de enormes poderes inventivos, Ballard revela, tal como Calvino, um notável talento para mostrar os espaços vazios e devastados da vida moderna, com as suas cidades invisíveis e os espantosos mundos da imaginação”

Malcon Bradbury, no New Tork Times Book Review

David Cronenberg, pegando em Crash, conseguiu brilhantemente transpor para o grande ecrã um desses mundos que Ballard revelou neste clássico da literatura de vanguarda. Vencedor do prémio especial do júri de Cannes em 1996, com grandes interpretações de James Spader, Holly Hunter e Elias Koteas, nos papéis principais, Crash alerta-nos sobre até que ponto as relações entre os seres humanos podem chegar numa sociedade regida pela tecnologia e pelo sexo, sem grandes alternativas excitantes, dando a conhecer um possível refúgio para se recorrer em situações extremistas. 10/10

Alcançar o Céu na companhia de um demónio? Pt. 2



Vamos vulgarizar o nosso corpo?
Todos nós sabemos o quanto o sexo é bom. Gostamos muito de o fazer, muitas vezes, com várias pessoas de preferência todas ao mesmo tempo. Mas porque se troca constantemente de parceiro sexual? Para demonstrarmos que somos tão bons que ninguém nos resiste ou porque nos excita faze-lo com tudo o que nos aparece à frente? Se no primeiro caso posso afirmar que o facto de conseguir engatar alguém não valoriza ninguém, visto ser tão fácil faze-lo, o segundo já não o posso condenar… simplesmente suponho que não se consegue controlar o instinto animal.
Existem também os reservados, aqueles que só praticam sexo com alguém especial… ok, não se esqueçam então de ponderar o grau de incerteza que Toth tão bem define em “O primeiro tijolo”.
Um equilíbrio é necessário… Se por um lado nos devemos preservar, para não se cair na vulgaridade, por outro lado ao experimentar várias experiências a nível sexual não estaremos a refinar o Prazer de forma a encontrar o que é realmente essencial para cada um de nós a este nível? Até que ponto se devem estabelecer limites neste campo?

Alcançar o Céu na companhia de um demónio?



Não deixa de ser interessante reflectir na ideia que a nossa espiritualidade não pode ser despojada da nossa sexualidade. Afinal de contas como se constrói um ser espiritual? Passando pela afirmação que o nosso ser sexual deve ser controlado?
Pegando nesse princípio podemos então afirmar que ao longo da nossa vida definimos determinados parâmetros que irão condicionar o nosso comportamento sexual perante os outros, que podem ser ou não discutíveis, dado que, cada um tem os seus, no entanto condicionam os nossos actos na interacção com as pessoas, permitindo moderar as nossas acções. Esses ideais vão sendo consolidados ao longo do tempo, no entanto algo de inesperado pode surgir para fugir à monotonia que pode acabar por se instalar no nosso quotidiano… quebrar, inconscientemente ou não, os mesmos, uma vez que provavelmente acaba por ser essa ruptura que faz com que surja algo de entusiasmante e refrescante no nosso íntimo. Aparece assim uma ruptura no nosso espírito, afectando-o. Podendo-se fazer da quebra dos seus ideais uma constante… no entanto ao fim de um determinado tempo o que vai acontecer quando todos os esses, os espirituais de origem forem corrompidos? Vamos corromper os novos já formados (a quebra deles) e voltar de novo à base tentando ir de encontro à suposta pureza do nosso ser? E quanto tempo irá permanecer isso assim? O tempo necessário para que uma nova ruptura seja outra vez entusiasmante? Entramos assim num ciclo vicioso e começamos apenas a refinar aquilo que ao fim de duas ou três dezenas de anos aprendemos? Ok… será uma alternativa, e nem sequer me interessa afirmar se é a melhor ou não. Agora importa reflectir se é uma alternativa viável face ao aperfeiçoamento e consolidação de ideais que vão sendo estabelecidos como correctos por nós que permitem construir um ser espiritual e sexual coerente e de confiança ou será apenas uma via fácil para atingir algo efémero.

Ser Feliz... (4)



Show

Let the show begin
It´s a sorry sight
Let it all decide
Now I’m
Pains in me that I’ve never found

Let the show begin
Let the clounds roll
There’s a life
To be found in this world
And now i see it’s all but a game
That we hope to achieve
What we can
What we will
What we did suddenly

But it’s all just a show
A time for us
And the words we’ll never know
And daylight comes
And fades with tide
And I’m here to stay

But it’s all just a show
A time for us
And the words we’ll never know
And daylight comes
And fades with the tide
I’m here to stay.

Beth Gibbons

E todas as palavras que ficam por dizer
São as que deviam ter sido ditas
Mas não são suficientes para explicarem
o que sinto
o que não sinto...
Não chegam para explicar a beleza
de olhar para ti
mesmo de olhos fechados...
Não explicam a impotência
De tudo o que tentei fazer
E deixei por.

As cortinas abrem-se e vislumbro as personagens
Que me rodeiam estão lá
A interpretar os papeis
Com os quais diariamente me deparo...

...Abandono o local
Ao ver que o protagonista és tu.

O futuro virá com ou sem ti...
E se o presente não te encontrar
A tua falta irá sentir...

E se o teu papel inacabado ficou
Para outro protagonista
No espectáculo o continuar
Tudo de um jogo não passou
Onde as regras foram ditadas
Pela incoerência
Que paira sobre duas vidas
Em que uma tenta uma actriz não ser
E de o ser a outra não deixa.

Ser Feliz... (3)



Eu amo
Tu amas
Ele ama
Nós amamos
Vós amais
Eles amam

É assim tão estranho?

Ser Feliz... (2)



Existe algo com que me tenho deparado de forma bastante recorrente: o medo de se sofrer com uma relação… o medo da entrega…
Relações que se foram, que nos marcaram profundamente com o sofrimento que causaram, e que vão alterando a nossa forma de lidar com outras. É mais que cliché ouvir alguém dizer que o seu comportamento perante as relações foi fortemente alterado por determinada(s), que graças a isso a sua forma de lidar com elas mudou drasticamente.
É um facto que é difícil conseguir uma relação à nossa imagem. Que as experiências pelas quais passamos nos podem levar a ter uma atitude cada vez mais fria e distante embora interiormente não nos tornemos necessariamente mais insensíveis, mas começa-se gradualmente a deixar de conseguir transparecer isso vivendo por vezes as relações de forma inconsequente.
A entrega deixa de ser fácil e por vezes de existir embora se procure.
Como se atinge assim a felicidade se estamos fortemente estigmatizados pelo passado que nos obrigou a criar barreiras de protecção para não se sofrer que podem acabar por se transformar em barreiras que não permitem alcançar o nosso bem-estar? Como se conquista a confiança de outra pessoa se não se está disposto a dá-la? Opta-se por criar a ilusão que se é feliz… que se vive uma relação… dando-nos apenas ao luxo de ter laivos de felicidade? Será que as experiências que vivemos têm que ser necessariamente transportas para uma nova pessoa não sendo ela a culpada do nosso passado?

Ser Feliz



Hoje apetece-me divagar um pouco sobre a felicidade numa relação… Confesso que sempre me senti bastante impotente perante a complexidade que estas podem atingir… De facto todos nós aprendemos a sonhar com algo baseado nos contos de fadas com que crescemos, no entanto os anos passam, as experiências acumulam-se, e tudo o que supostamente foi idealizado vai desaparecendo aos poucos até que acaba por desaparecer completamente... Inicia-se assim uma fase esquizofrénica na nossa vida: tentar ser feliz tendo consciência que a vida não é nenhum “mar de rosas” e que temos que aprender a construir uma relação baseada na realidade que nos rodeia. O que nos resta então fazer? Até que ponto nos podemos empenhar numa história que sentimos que nos pode fazer feliz? Por muito que exista dedicação e lealdade os obstáculos serão muito mais.Sim… Acredito que a felicidade existe, no entanto seremos também felizes quando o nosso companheiro discorda connosco, quando não partilha o momento mais fútil da sua vida, quando não partilha o seu interior tanto quanto gostaríamos, entre muitas outras barreiras que eventualmente surgem? A nossa, terá que saber adaptar-se, porque existe algo inexplicável que nos mantêm unidos a essa pessoa… no entanto até que ponto nos devemos adaptar? Não se corre o risco de cair no ridículo de estarmos constantemente a adaptar e chegarmos ao ponto que a única coisa que temos feito é isso mesmo, até nos tornarmos completamente adaptativos, e empenhamo-nos tanto que simplesmente nos esquecemos nós próprios de ser felizes? Ou então simplesmente ficamos à espera que a outra pessoa nos deixe feliz sem nos apercebermos que a reciprocidade deve ser constante numa relação. Acredito que a felicidade não passa por esses extremos, mas é muito fácil cair neles.Sinceramente gostava de defini-la nos tempos que correm… acredito simplesmente que existe… que aparece e desaparece e volta a aparecer, não acredito no seu fim, mas gostava que estivesse sempre presente.