terça-feira, fevereiro 08, 2005

Década de 90 revisitada


"La Llorona" by Lhasa

La Llorona é uma figura mitológica mexicana que encanta as pessoas com o poder da melancolia e da tristeza. “La Llorona” é também o título do disco de estreia de Lhasa que encontrou nessa personagem a inspiração para ilustrar as onze canções poéticas, talhadas de emoção pura, que o constituem.
Com uma estranha espiritualidade e uma pose latina trágica, mais imaginária que verdadeira, expressam-se emoções como nunca havia sido feito. Criou-se um mundo com as suas próprias tradições; que reside na imaginação daquela que é possuidora de uma voz intensamente verdadeira que canta o deserto, as mulheres ciumentas, paixões carnais, desejos irresistíveis… o amor; com o excesso de uma verdadeira ultra-romântica.
Sobrepondo a herança mexicana sobre as restantes raízes culturais e juntando o forte papel que a literatura tem na sua vida, Lhasa em meados da década de 90 (1997) dá a conhecer um misto de música popular mexicana, música cigana, trejeitos de canção francesa e de Tom Waits. Canta-se em castelhano na totalidade do registo, de forma arrastada; com uma qualidade emocional admirável, melancolicamente dramática e desintegrada de tudo o resto. Com a ajuda de Yves Desrosiers, que a acompanha à guitarra, criou-se uma das obras-primas digna de ocupar o panteão dos registos onde uma voz se faz acompanhar por uma guitarra.
Intensa e de feição irrefutavelmente verdadeira a música desta senhora está longe de tudo o que por aí se faz. Ela sabe o que é a arte de bem cantar. Lhasa é como uma história de amor, o princípio desta paixão faz-se com “La Llorona”. (9,5/10)