sexta-feira, agosto 04, 2006

Leituras entre lençóis

"Drácula" by Bram Stoker.

Baseando-se nas superstições propagadas pelas gerações dos povos balcânicos, com origem no personagem histórico Vlad III, Bram Stoker (1847-1912), escreveu no final do século XIX aquele que é considerado hoje um dos clássicos da literatura gótica: o romance epistolar “Drácula”.
O romance narra o impacto que o conde Drácula causa numa viagem que faz a Inglaterra e como é que ele irá abalar a vida de uma série de personagens que até à data teriam entre si uma relação despreocupadamente burguesa. Essas personagens são: Jonathan Harker e a sua noiva Mina Murray; a amiga de Mina, Lucy Westenra; os pretendentes de Lucy, Quincey Morris, Arthur Holmwood e o cativante John Seward; o paciente de Dr. Seward, o perturbador Renfield e finalmente o cientista ortodoxo, interessado em crenças tenebrosas, Van Helsing. Enumeram-se as personagens apenas pelo facto de serem todas elas tão esplêndidas como o é o próprio conde; existe profundidade na definição delas todas, o que leva o leitor a sentir os dramas vividos por cada uma e a apegar-se a elas ao longo da estória visto conseguirem adquirirem a sua liberdade enquanto elementos únicos. Aqui, ao contrário do que posteriormente viria a ser explorado no cinema, não se toma o facção de Drácula; este é criado com grande encarniçamento, tanto no sentido de paixão, por ser uma criatura possuidora de impressionantes faculdades; como no sentido de crueldade, por, em contraposto, possuir tais virtudes devido ao facto de ser uma entidade diabólica - e aqui não há qualquer acepção de fascínio, mas sim a interpretação de estarrecimento perante tal facto. Essa ambiguidade de aproximação ao conde fará com que o romance possa exprimir uma admirável metáfora de alusão ao desejo da imortalidade suprimida pela necessidade da morte, usando para o efeito a força cabal da religião.
Quanto à narração, ela não podia começar com mais fulgor. Desde o inicio o leitor é envolvido num ambiente angustiante, misterioso, sugestivo e ilustrativo. Esse ambiente ao ser exposto a partir de documentos ilusoriamente factuais impõem o empenho na leitura da sequência de peripécias que os personagens vivem. Sofrerá uma pequena perda de ritmo na exploração da metamorfose de Mina após a da Lucy; no entanto essa quebra será aproveitada para justificar o novo ímpeto que ganham entretanto as personagens masculinas da obra.
Bram Stoker soube combinar habilmente intriga e terror nesta magnífica obra; não sendo assim de estranhar que o seu nome fique eternamente ligado nesta escrita capaz de subjugar o leitor da primeira à última página. (9,5/10)