quarta-feira, agosto 02, 2006

Arte que alcançou o 7º lugar


"Dracula" by Tod Browning.

Não deixam de ser irónicas as primeiras adaptações que se fizeram para o cinema do romance de Bram Stoker... Em 1922, o grande F. W. Murnau apresenta a sua versão para o cinema de “Dracula”, que seria também a primeira adaptação a ser feita para o grande ecrã, sob o disfarce de Nosferatu; e realiza um dos mais excepcionais filmes de sempre, utilizando com grande mestria os jogos de luzes e sombras na alusão à grande batalha do romance entre o bem e o mal, contornando de forma eficaz as limitações que a tecnologia da altura poderia causar, ou não fosse Murnau um dos maiores realizadores do movimento expressionista alemão. Quem não apreciou a homenagem a Stoker foram os gestores do seu património, que obrigaram o realizador a alterar os nomes das personagens e os locais da estória, e que mesmo assim quase levaram a que o filme fosse extinto por completo. A estória no entanto mantêm-se e é das mais fulgurantes adaptações que se fez desse clássico da literatura gótica para o cinema.
Em 1931 é a vez de Tod Browning apresentar a sua versão de “Dracula”. Desta vez os nomes mantêm-se no entanto a inspiração para o filme não se foi buscar ao romance mas sim a duas das suas adaptações para teatro, uma delas a cargo de Hamilton Deane e outra a cargo de John L. Balderston; não sendo assim de estranhar a condensação da acção e do espaço físico do argumento do filme de Browning.
“Dracula” em termos de realização não será tão inspirado quanto o é “Nosferatu, eine symphonie des grauens”, no entanto pode-se considerar que é o filme que teve o alento necessário para impulsionar um dos géneros incontornáveis no cinema: o filme de terror. Tod Browing ameaçava conseguir algo do género dada a temática grotesca dos seus filmes, e o que é certo é que o conseguiu. O filme, acaba mesmo por ser tão sombrio quanto o é o romance, devido aos magníficos cenários que apresenta e, sobretudo, devido à interpretação carismática de Bela Lugosi. O actor, que interpreta o conde Drácula, nem sequer teria sido a primeira escolha do realizador, porém revelou-se um dos mais dedicados protagonistas de sempre, interpretando o papel com um inconfundível sotaque húngaro - visto que nem sequer falava a língua inglesa - e com pequenas luzes direccionadas aos olhos para enaltecer a sobrenaturalidade do ser que encarnava; sendo assim o responsável por fazer com que o grande deslumbramento do filme fosse de facto a presença do mal e por despertar a afeição da cultura popular do século XX pelo lado sombrio do cinema. (8/10)