sexta-feira, julho 21, 2006

Harmonias

“The greatest” by Cat Power.

Um álbum com uma canção como “Love & communication” tem todo o direito de se chamar “The greatest”; porém se é devido ao facto de ser o melhor disco da cantora - como afirma a própria e como tem vindo a anunciar a imprensa musical especializada – que lhe foi dado esse nome, isso poder-se-á por em questão. Afinal, a discografia de Cat Power conta com o excelente “Moon pix” e o colossal “You are free”, pelo que desvalorizar essas edições perante a presente não será de todo razoável. Agora, se se quiser, pode-se sim, considerar o álbum mais coerente da discografia da cantora; a primeira audição que se faz a “The greatest” deixa logo transparecer isso. Para além disso transparece ainda a grande particularidade de Cat Power: a de provocar angústia no ouvinte, deixá-lo consumido. É capaz de criar canções que podem conter em si um encanto de tal forma desarmante que atordoam. Tal como já foi capaz de nos fazer sentir assim em canções como “Cross bones style” de “Mon pix” ou “Maybe not” de “You are free”; em “The greatest” isso também acontece quando se ouve “Love & communication”. No entanto o presente álbum não se sustenta apenas na referida canção, pois também se pode ouvir “Hate” que eleva o tom confessional de uma canção a um nível superior, capaz de deixar quem quer que seja sem argumentos quando se ouve “I hate myself and i wanna die”, pela forma magistral de como é cantada e por toda a melancolia que aqueles acordes simples e eficazes encerram; “The Moon”, uma canção fantasmagoricamente envolvente; “Where is my love”, Cat Power mais que nunca em formato de canção clássica; e a magnífica canção que abre o álbum - que também lhe dá nome -, com uma exuberante secção de cordas e com a voz da cantora a pairar sobre ela própria.
Ao ouvir a voz de Cat Power neste disco mais uma vez se fica perplexo, mantém-se com certeza aquela tonalidade quente e envolvente, no entanto sofreu uma permutação; tal como em discos anteriores já tinha acontecido, apresentando assim mais uma possibilidade de como ser excelsa. Nos arranjos musicais a cantora desta vez escolheu a Memphis Rhythm Band para a ajudar; aquilo que era pretendido era criar canções que de facto se aproximassem do formato da estrutura clássica da canção. A escolha foi acertada, afinal aquilo que não falta ao grupo em questão é experiência na composição desse tipo de canções, e assim foi criado um álbum cheio de composições luxuriantes e das mais luminosas que algumas vez ouvimos nos álbuns da cantora. No entanto a luminosidade de “The greatest” não é dada de forma gratuita, ou não fosse Cat Power exemplar na criação de impossibilidades, oferece-se antes a desesperança mascarada de optimismo e o desafio ao ouvinte em aceitar o facto de assim o ser. (9/10)