quarta-feira, junho 22, 2005

Arte que alcançou o 7º lugar


"Danny the dog" by Louis Leterrier

O cinema francês parece querer afirmar, de modo cada vez mais evidente, a sua capacidade de exportar concepções estranhas à sua tradição e dilui-las de forma eficaz no seu contexto. Louis Leterrier com “Danny the Dog” insere-se na vaga não só através da óbvia intenção de criar um filme para um novo mainstream em desenvolvimento (assimilando assim a ideia do cinema enquanto indústria), mas também através do uso de actores e músicos exportados.
O filme narra a história de Danny (Jet Li) que vive prisioneiro numa cave onde não tem qualquer contacto com o mundo exterior. Bart (Bob Hoskins) trata (literalmente) Danny como um cão e serve-se dele para ganhar dinheiro fácil em lutas ilegais que decorrem em clubes elitistas. No entanto um dia a vida de Danny sofre uma mudança devido a um acidente automóvel que o brinda com um passe para a liberdade. No contacto com o exterior conhece Sam (Morgan Freeman), um cego afinador de pianos. A partir daí, Danny envolve-se num universo repleto de valores e sentimentos muito diferentes daqueles que sentira até ao momento.
A música surge aqui como responsável pela liberdade espiritual. A ideia poderia ter sido levada ainda mais longe no entanto, tal como quase todos os restantes elementos do filme, insinuam-se grandes intenções que encontram resoluções que poderiam ser bem mais conseguidas. De facto o filme necessitava de mais languidez e de mais deslumbramento visual sucedendo-se de forma mais fluida. Pode-se pedir isso pois existem momentos em que o é plenamente conseguido, como se pode constatar na abertura do filme. No entanto a sobriedade fotográfica juntamente com a narrativa tornam-se numa maior valia num mundo inspirado pela realidade. Destaque ainda para Jet Li que interpreta a sua personagem de modo bastante sedutor: apuradamente encarna o papel de cachorro abandonado; por vezes desorientado e receoso, outras meigo e curioso, feroz quando as situações o exigem.
Os Massive Attack estreiam-se aqui na feitura de bandas sonoras. Os ambientes criados adequam-se perfeitamente ao mundo criado por Louis Leterrier, se bem que se surgissem mais realçados de certo gerariam um maior envolvimento no argumento de Luc Besson e Robert Mark Kamen.
Danny the dog ajuda a compreender os passos que os realizadores franceses actualmente parecem querer dar: afirmar o cinema Francês enquanto indústria sem que este no entanto perca por inteiro a sua identidade cultural. (6/10)