sexta-feira, outubro 06, 2006

Arte que alcançou o 7º lugar


Wo Hu Cang Long” by Ang Lee.



[“Wo Hu Cang Long” trailer]

“Wo Hu Cang Long” (“O tigre e o dragão”), de 2000 com a realização a cargo de Ang Lee, e “Ying Xiong”, de 2002 realizado por Yimou Zhang, são dois dos mais deslumbrantes filmes sobre artes marciais da história recente do cinema. Para além disso têm em comum o facto de reunir uma série de actores asiáticos mais conhecidos pelos seus desempenhos em filmes de acção, que em ambos os casos demonstram a sua capacidade para desempenharem artisticamente os papeis para os quais foram encarregues. Os filmes encontram-se ainda nas sumptuosas coreografias dos combates apresentados, em ambos os casos desafia-se tanto a imaginação como as leis da física para se apresentarem acrobacias e sequências de luta verdadeiramente soberbas.
No entanto nem o filme de Ang Lee, nem o de Yimou Zhang anula o do outro. As diferenças a nível narrativo e visual acabam por ser claramente distintas. No filme de Lee atinge-se mais profundidade no argumento, tanto na sua vertente feminista como a nível das filosofias utilizadas, para além disso, no geral, os efeitos especiais utilizados apresentam-se mais fidedignos ao olhar do espectador, isso não só devido à graciosidade com que Lee utiliza a câmara, mas também ao facto de a maior parte dos planos serem muito fechados e por as cenas se desenvolverem perspicazmente em ambientes soturnos ou sem luz directa. Como o filme de Yimou Zhang pretende ir mais além a nível visual - conseguindo-o com um estilo memorável, utilizando para isso a fotografia de Christopher Doyle que apresenta o desfile de uma magnífica paleta de cores saturadas -, utilizam-se sobretudo planos panorâmicos de espaços abertos (magnificamente iluminados) e recorre-se à natureza como mais uma arma vital para as cenas de combate; o desafio é assim maior e devido a isso por vezes é então necessário recorrer a alguns cortes ou a algumas estratégias técnicas que fazem com que as cenas de acção não se apresentem tão harmoniosas (sem nunca deixarem de o serem) como se sugere que o são.
O desafio era enorme, bem ao estilo de Kurosawa – a grande referência aqui e também deste género inconfundível do cinema -, e tal como este realizador, tanto Ang Lee como Yimou Zhang conseguiram alcança-lo, criando mais dois épicos incontornáveis sobre samurais e do cinema (não só do asiático), instigando o género com uma beleza irresistível. ("Wo Hu Cang Long" - 9/10, "Ying Xiong” - 8,5/10)


"Ying Xiong” by Yimou Zhang.



["Ying Xiong” trailer]