Leituras entre lençóis
“Bartleby & companhia” by Enrique Vila-Matas.
Existem prazeres que não se devem negar, existem outros que tem todo o sentido em serem negados. A essência de “Bartleby & companhia” não é com certeza essa, mas é uma das apaixonantes aproximações feitas à negação da escrita de alguns dos autores evocados pelas notas sem texto elaboradas por Enrique Vila-Matas.“Bartleby & companhia” analisa particularmente a negação da escrita de vários autores, e valoriza justamente a obra deles pegando nesse ponto de vista. Bartleby, o personagem de um conto de Herman Melville, que ao ser encarregado de algum afazer responde impreterivelmente “que preferia não o fazer”, é o responsável pelo alento da elaboração desta obra incontornável da negação, levando o leitor a descobrir uma série de justificações que levam à elaboração de uma “literatura do Não”, uma literatura que se encontra suspensa por não se ter escrito, que eleva toda a literatura justamente devido a isso e que defende a grandiosidade desta por ter sido abandonada. Ou seja, comprova o facto de que alguns dos melhores autores o são devido a terem renunciado “à escrita para melhor a poderem afirmar”.
Enrique Vila-Matas acaba assim por também organizar um tipo de pensamento (perante um universo tal como o conhecemos) que leva o leitor a transpor a particularização feita para a escrita a ser adaptável a todas as matrizes que constituem o Ser para melhor o poderem definir. E se bem que nem todas as justificações são apresentadas para a “negação da literatura”, o livro por si só leva o leitor a questionar a própria literatura e a necessidade dela, de forma lúdica e irreversivelmente de modo emotivo. E se a ausência de uma crítica a esta obra só a iria valorizar, parte do entusiasmo que provoca merece ser apresentado. (9,5/10)
<< Home