segunda-feira, dezembro 11, 2006

Elas... (1)

Em 2006, uma série de deslumbrantes vozes femininas foram as responsáveis pela criação de alguns dos álbuns preciosos do ano, nomeadamente: Cat Power, Charlotte Gainsbourg, Jhelisa, Joanna Newsom, Jolie Holland, Lisa Germano, Neko Case, Susanna & the Magical Orchestra e Ursula Rucker. É pena não se poder juntar a esse mote tanto o nada inspirado “Briefly & Shaking” de Anja Garbarek (que sucede o magnífico “Smiling & Waving”), como o razoável “Slappers” de Dani Siciliano; elas têm indubitavelmente belas vozes, no entanto os presentes discos, na integra, não convencem, embora se encontrem neles algumas faixas valiosas. Feist e PJ Harvey também lançaram discos em 2006, a primeira “Open Season” e a segunda “The Peel Sessions 1991 - 2004”; tratam-se de releituras ou reinterpretações daquilo que já é mais ou menos conhecido de ambas, e devido à falta de novidade propriamente dita, acabam por ser obras apenas com especial interesse para os fãs fervorosos; se bem que não se sai propriamente prejudicado pela audição de ambos.

Dos álbuns de Cat Power e de Neko Case já se falou por aqui e por aqui, respectivamente. Fica em seguida um texto sobre uma surpresa que dá pelo nome de Joanna Newsom. Das outras, e de mais algumas, ir-se-á falar em futuros textos.

“Ys” by Joanna Newsom.
(2006 / Drag City)

“Ys” é já o segundo disco de Joanna Newsom (insista-se no nome, para que ele fique bem gravado na nossa memória), que traz com ele cinco faixas com uma carga dramática encantatória que pode dificultar a vontade de cessar a sua audição. São cinco canções onde tudo parece acontecer, cinco canções inspiradas pela mitologia bretã, cinco canções que pertencem a um mundo que parece não ser o actual mas que também não poderia ser outro. Esta última característica é justamente uma das impressionantes qualidades do álbum. Isso consegue-se pela utilização de referências a contextos líricos e gráficos de cariz arcaico que se combinam com as composições folk – linguagem utilizada por excelência, onde se sente o extraordinário contributo de Van Dyke Parks – que ostentam um misto que tem tanto de aura medieval como de cultura cinematográfica e que se fazem acompanhar por uma voz ora ameninada, ora matura. Assiste-se aqui a uma demonstração muito pessoal, intimista, se assim o quisermos, de uma ideia conceptual; por alguém que no presente contexto chega até ao ouvinte como sendo muito peculiar, alguém que vive neste mundo mas que tão bem poderia ser a princesa que evoca no álbum. (9/10)