segunda-feira, dezembro 18, 2006

Elas... (3)

Em seguida fica mais um olhar sobre alguns dos discos que se considera que merecem destaque no ano de 2006, onde Elas são a figura central. As suas vozes, atitude, talento e originalidade, assim o impõem; e gosta-se que assim o seja. Lisa Germano, Susanna & the Magical Orchestra e Ursula Rucker encerram assim a secção que se lhes dedica.

“In The Maybe World” by Lisa Germano.

(2006 / Young God Records)

“In The Maybe World” é mais um belo álbum de Lisa Germano, que sucede o não menos belo “Lullaby For Liquid Pig”; podendo-se até considerar um descendente directo desse. Por conseguinte poderá acarretar o mesmo problema que o seu antecessor: passar desapercebido e não se abonar com o respectivo afecto que merece, negligenciando-se uma vez mais uma artista de facto talentosa. A música de Lisa Germano é inteligente, por excelência cerebral, sendo o presente álbum também um reflexo disso. Num registo onde se confunde ultra-realismo com fantasia, sensualidade com drama, entre outros conceitos limite e opostos; a voz de Lisa Germano apresenta-se perfeitamente focada nos seus propósitos, sendo que, a música que a acompanha, é também um elemento vital para os alcançar. (9/10)

“Melody Mountain” by Susanna & the Magical Orchestra.

(2006 / Rune Grammofon)

Susanna & the Magical Orchestra apresentam em 2006 uma obra que segue a brilhante linhagem de discos como “The Covers Record” de Cat Power, “Cover Magazine” de Giant Sand, “People Are Strange” de Stina Nordenstam ou “Strange Little Girls” de Tori Amos. Ou seja, álbuns onde as canções que eram de outros deixam de o ser para passarem a pertencer àqueles que decidiram apoderar-se delas; sem no entanto se faltar ao respeito do original, mesmo que ele se apresente completamente irreconhecível. E vê-se assim surgir um mote de versões de canções mais ou menos conhecidas. Os originais ganham um novo fôlego graças a quem agora as interpreta e que deixa neles a sua patente registada. “Melody Mountain” corre o risco de parecer aborrecido devido ao tom estável que adopta do inicio ao fim, no entanto também corre o risco de se tornar justamente o oposto, podendo-se assim sair plenamente gratificado da sua audição. (8/10)

“Ma At Mama” by Ursula Rucker.

(2006 / !K7)

Ursula Rucker continua a ter muito para dizer e continua a saber como dizer. Com um estilo muito próprio fala-nos sobre o estado da contemporaneidade de uma cultura negra que cada vez mais parece andar a perder-se justamente naquilo tem vindo a reivindicar para si. Mordas, como se exige do Hip-Hop ou do Rap, ela reclama para si eficientemente as características desses estilos para que, em formato de Spoken Word, possa proclamar mensagens politicas acompanhadas por uma secção musical rica em melodias estimulantes e ritmos hipnóticos; havendo ainda a oportunidade para prestar homenagem a uma série de brilhantes entidades que ajudaram a definir uma comunidade artística e cultural que têm agora uma vasta influencia no mundo ocidental. Ursula Rucker continua cheia de vitalidade e sem receio algum de tocar na ferida quando é necessário, sendo “Ma At Mama” um exemplo notável disso. (9/10)