sexta-feira, novembro 12, 2004

Conto urbano contado na primeira pessoa – Ele (3/3)



Jorge:

Nessa noite não fodemos… Virou-se para mim e disse que ia à casa de banho. Esperei por ele algum tempo antes de me dirigir ao bar onde pedi uma vodka limão para descontrair um pouco, tinha sido bastante intenso o que tinha acontecido deixando-me ansioso o facto de ter sido abandonado.
Enquanto esperava pela bebida acendi um cigarro e percorri o local varias vezes com o olhar na expectativa de o encontrar… Mas nada.
Reflectia sobre o que tinha acontecido quando os meus pensamentos foram interrompidos por alguém que me pediu lume. Reconheci o rapaz… Sorri cinicamente enquanto procurava no bolso o isqueiro que ao fim de pouco segundos se encontrava nas suas mãos, e que foi devolvido juntamente com o comentário: “Vejo que o teu amigo, para além de mim, conseguiu resistir aos teus olhos azuis, mas eu não sou tão forte quanto ele”.
Sorri… é tão bom ser engatado; confesso que me levanta bastante a auto estima. Iniciamos uma animada conversa e passado algum tempo começamos a dançar um com o outro, até ver o Manuel a vir na nossa direcção. Parei de dançar… O Manuel olhava para o intruso com uma expressão interrogativa que, quando chegou ao pé de nós, foi trocada por outra dotada de uma seriedade que nunca tinha manifestado perante mim. Os dois por momentos ficaram sem saber como agir mas o Manuel, com uma atitude calma, embora mantida com um esforço evidente, aproximou-se de mim e explicou a sua demora. Fez uma pausa… Olhou-me directamente nos olhos, e de seguida disse-me a última frase dessa noite: “Vejo que há pouco devia tê-lo deixado juntar-se a nós”. Olhou de lado para o intruso e disse que ia embora. Não sugeri sair com ele…