quinta-feira, novembro 04, 2004

Conto urbano contado na primeira pessoa - Algumas horas antes (2/3)



Manuel:

Tal como todas as sextas-feiras à noite saí para me divertir acabando por ir à discoteca que habitualmente frequento, acompanhado de um grupo reduzido de amigos que me foram abandonado com os engates que entretanto fizeram. Fiquei sozinho… mais embriagado do que devia.
Na pista continuava a dançar O rapaz com quem, mais uma vez, cruzei inúmeras vezes o olhar tentando denunciar o desejo da concretização de um contacto físico íntimo.
Já tinha falado com Ele várias vezes, em situações onde a lucidez também não abundava; mas lembro-me perfeitamente da voz, da forma como falava e das suas mãos a tocarem sítios estratégicos do meu corpo; denunciando deste modo que o desejo de intimidade estava também Nele presente.
Gostava do facto que esta tensão se mantivesse; a iminência da concretização dava um certo carisma a ambas as partes. Mas embora tudo isto fosse muito interessante o que realmente o era acabou por se revelar mais tarde.
Ele tinha desaparecido… Eu estava farto de O tentar encontrar enquanto ouvia música sem grande substância. Estava prestes a ir embora quando surge alguém por trás de mim sussurrando-me ao ouvido: “Excita-me o facto de te poder ter e de não o fazer, mas hoje quero-te”. Viro a cabeça e vejo que era Ele. Sorri e encostei-me o mais possível esticando o pescoço que começou a beijar delicadamente como se tivesse medo que estilhaçasse a qualquer momento. Abraçou-me. Ficamos assim (a dançar ao ritmo de uma música que o DJ teimava em não passar) até aparecer alguém à minha frente perguntando se podia juntar-se a nós. Sorri... Encostei ao de leve os lábios no ouvido do intruso e disse: “Não fazes parte deste mundo”.