sábado, outubro 23, 2004

Contos urbanos contados na primeira pessoa: X – (Blog) FIM



Seguimos no carro Dele em direcção à praia…falava comigo de forma pausada, num tom de voz suavemente arrebatador devido à forma extremamente carinhosa com que as palavras lhe saiam da boca, construindo frases que, por vezes, noutro contexto seriam completamente desinteressantes mas nesse momento todas me fascinavam completamente. E tudo isso era constantemente presenteando com um discreto sorriso densificado por uma ternura infantil irrepreensível.
Tocou na minha perna e aí deixou ficar a mão exercendo uma leve pressão que relaxava essa zona do corpo, levando-me involuntariamente a ficar com os olhos emocionados… começava a acontecer… Pus a minha mão por cima da dele e entrelaçamos levemente os dedos. Olhei-O durante o momento de silêncio que entretanto surgiu no qual se virou para mim esboçando outro sorriso... A escuridão, intercalada pela luzes laranjas dos candeeiros da estrada, não impedia de descobrir um certo brilho nos olhos Dele que me levou a dizer, precedido de um suspiro, que não sabia o que fazer com Ele... Apertou a minha mão com força e deu-me uma resposta: - Faz tudo o que achas que deves fazer, estou aqui para isso… Rimos... Apercebemo-nos que esse momento estava carregado de um romantismo infantil, um pouco ridículo até. Mas apreciávamo-lo. Acompanhava-nos algo arrebatador que os dois sentíamos; estava a apoderar-se de nós e notava-se em cada gesto, em cada cheiro, em cada diálogo… ali, naquele momento, estávamos em empatia.
Começou a dar uma música que ambos reconhecemos, surgindo dessa forma a banda sonora adequada; era o Roads dos Portishead que realçou a intensidade do momento. Comentamos o quanto gostamos da música e enquanto o fazíamos seguiu para um caminho secundário onde acabou por estacionar o carro num sítio deserto. Disse-me que já não aguentava mais… Que sentia que eu fazia parte dele.
Não existia iluminação no local, mas a escuridão não impedia de nos vermos cada vez mais nitidamente permitindo à intensidade do nosso desejo começar a revelar-se…
Levou os lábios Dele em direcção aos meus; mas antes de se encontrarem fui atingido por uma lufada contendo um aroma adocicado de um perfume misturado com o do corpo. Finalmente um contacto quente e aveludado atingiu os meus lábios e de seguida a saliva alcoolizada e fumarenta de cada um misturou-se… Parou... Tocou na minha cara e acariciou-a levemente o que contemplei até não conseguir resistir ao impulso de o beijar novamente... mais... mais... sempre intensamente.
Senti a formação de uma descarga de adrenalina a formar-se no meu cérebro que se foi propagando rapidamente para o resto do meu corpo: O prazer espiritual iniciara a sua união com o carnal com o objectivo de se tornarem um só.
Saí então do meu banco e sentei-me em cima Dele usando o volante para apoiar as costas… Todo o calor aconchegante emanado do corpo Dele entrava agora em contacto com o meu fazendo com que a tensão desaparece-se quase por completo… sentia por baixo das calças de ganga Dele o seu sexo quente. Mexi-me de forma a oferecer cada vez mais prazer… como me sentia bem nesse momento…
Desabotoei-Lhe os botões da camisa e contemplei um peito perfeito que beijei suavemente enquanto inalava fragrância que emanava… De forma segura um dedo pegou no meu queixo e levou a minha boca em direcção à Dele… Seguiu-se um prolongado beijo de grande rendição até que me encostei ao volante e fiquei a observá-lo, sorrindo, durante breves segundos. Puxou-me contra ele e abraçou-me... senti um leve arrepio no corpo dele, antes de me abraçar com mais força… e após um suspiro sussurra-me lentamente e levemente ao ouvido: - Agora sou eu que não sei o que vou fazer contigo… Senti os cabelos da minha cabeça a enriçar-se quando ouvi esta palavras…sorri… estremeci involuntariamente…
Bem… Estou a divagar novamente… Podia ter acabado assim a noite de sábado, mas de facto não foi bem assim que terminou. Deixem-me beber um cafézito e fumar um cigarro antes de ir ao meu quarto acorda-Lo para ser Ele a contar como tudo se passou.

Manuel