sábado, outubro 16, 2004

Contos urbanos contados na primeira pessoa: I



Mais uma vez cá estou eu isolado em minha casa a fumar um cigarro e a pensar sobre o que de emocionante aconteceu comigo nestes últimos dias. Sou um rapaz com vinte e três anos, de estatura média, moreno, a precisar de sair de casa para apanhar um pouco de bronze. Se vos interessar este pormenor, sou homossexual. Mas deixo de lado, por agora, as descrições pois o que me interessa é partilhar convosco a minha experiência de sexta-feira passada. Tal como todas as sextas saí à noite indo parar à discoteca, que habitualmente frequento, acompanhado de um grupo reduzido de amigos que me foram abandonado com os engates que entretanto fizeram. Pela altura em que todos eles já me tinham deixado sozinho, e me encontrava mais embriagado do que devia, ainda haviam disponíveis dezenas de rapazes bonitos e sensuais, naquela forma pré-estabelecida aprendida em lugares comuns o que me transmitia a sensação que nada de novo se passava. Entretanto surge um atrás de mim, que me diz que não entendia porque é que o gajo mais bonito do sítio continuava sozinho a essas horas da noite; olhei para ele, e embora servisse para ter uma noite excitante de sexo simplesmente respondi a primeira coisa que me passou pela cabeça: - porque posso escolher. Bastante presunçoso, admito, mas a minha mente encontrava-se noutro sítio. Nessa noite dançava na pista aquele rapaz com o qual já tinha cruzado várias vezes o olhar e com quem já tinha conversado outras tantas sobre assuntos de uma futilidade extrema, mas que revelavam uma personalidade coerente, no entanto ainda não tinha acontecido nenhum contacto físico mais íntimo embora fosse bem evidente, de ambas as partes, que a tensão eminente para que isso acontecesse era mais que muita. Mas gostava do facto que isso se mantivesse assim. Talvez o mais interessante que estava a acontecer entre nós fosse essa ausência de contacto físico; transmitia algum carisma da parte dele. Afinal não… o mais interessante acabou por se revelar mais tarde. Já o tinha perdido de vista à bastante tempo e já estava farto de ouvir música sem grande substância estando prestes a ir embora quando alguém surge por trás de mim e sussurra ao meu ouvido: - excita-me o facto de te poder ter e de não o fazer, mas hoje quero-te. Viro levemente a cabeça e vejo que era ele, sorri e encostei-me o mais possível, estiquei o pescoço, o qual começou a beijar levemente como se tivesse medo que a qualquer momento estilhaça-se, abraçou-me e tocou-me na maior parte das zonas sensíveis do meu corpo. Excitou-me imenso tudo isso o que me levou a roçar várias vezes no sexo dele. Estivemos cerca de meia hora assim, dançado ao ritmo de uma música que o DJ não passava até que apareceu alguém à minha frente e me perguntou se podia juntar-se a nós. Eu sorri... e encostando levemente os lábios ao ouvido do intruso disse: - não fazes parte deste mundo.

Manuel