sábado, outubro 16, 2004

Década de 90 revisitada


PJ Harvey – Rid of Me

Como se lida com a situação de perder alguém que é essencial ao nosso íntimo? Grita-se desesperadamente, implora-se, tenta-se mostrar o que a outra pessoa vai perder:
“I beg you, my darling\ Don't leave me, I'm hurting\ Lick my legs I'm on fire\ Lick my legs of desire\ I'll tie your legs\ Keep you against my chest\ Oh, you're not rid of me\ Yeah, you're not rid of me\ I'll make you lick my injuries\ I'm gonna twist your head off, see\ Till you say don't you wish you never never met her?”. Tem-se consciência do sucedido mas ainda se sente a necessidade de entrega e de reaver quem parte… tem-se coragem para admitir isso? PJ Harvey tem. Coragem e honestidade serão provavelmente as palavras que melhor podem definir a obra desta senhora. Neste álbum canta-se a perda mas não só, canta-se também a audácia, a fragilidade e a perversão. Toda a obra de PJ Harvey é trespassada por estes aspectos mas nunca como em Rid of Me é nos dado a conhecer de uma forma tão primitiva e tão grotesca simultaneamente adocicada com o veludo que só uma grande voz é capaz de alcançar... Berra-se desalmadamente para exorcizar a dor, para lidar com a inconformidade, para mostrar que sé é forte, admite-se a realidade tendo coragem de a enfrentar marcando uma posição… Aqui revelasse e despoja-se a alma da forma mais directa possível. Com um conjunto reduzido de músicos que exemplarmente encontram no caos e no ruído a melodia, Robert Ellis na secção rítmica e coros; Steven Vaughan no baixo; que acompanham Harvey na voz, guitarra, violoncelo, violino, e órgão, reinventam-se os blues dando origem uma obra-prima justamente reconhecida pela crítica mundial especializada como sendo um dos melhores álbuns dos anos 90. Pode ser um álbum rude mas pode oferecer uma empatia total. Para ouvir solitariamente. 10/10