sábado, outubro 16, 2004

Contos urbanos contados na primeira pessoa: IX



No sábado acordei com uma dor de cabeça terrível. Tinha bebido demasiado na noite anterior. A minha mãe quando viu no estado em que me encontrava não evitou pregar mais um sermão moralista chamando-me repetidamente a atenção para o facto de ter chegado mais uma vez tarde a casa. Quis saber o que tinha andado a fazer durante toda a noite. Coitada… Um esforço inútil da parte dela. Respondi que andei a divertir-me com o pessoal do costume, que acabamos por ir todos a uma discoteca e que cheguei tão tarde porque tive que esperar que alguém decidisse ir embora para me deixar em casa. Estava dependente dos meus amigos... A culpa não foi minha.
Mas… na realidade quando quero voltar para casa facilmente o faço pois tenho sempre alguém a quem recorrer a qualquer momento. E nessa sexta-feira não saí propriamente com amigos uma vez que fui conhecer pessoalmente um rapaz que me era praticamente estranho. Nem sequer acabei em nenhuma discoteca com ele. Mas também não voltei tão tarde para casa por ter ficado com ele a noite toda. Voltei quase de manhã pois nessa noite a minha saída foi finalizada por uma longa conversa com uma grande amiga.
Vou então contar o que se passou nessa noite embora deixe desde já claro que também posso contar uma versão diferente do que realmente aconteceu. Afinal de contas a minha vida só a mim me diz respeito. Sendo assim não garanto que tudo que possa dizer de facto aconteceu mas, se a curiosidade se mantém, cá vai:
Nessa sexta-feira comecei por ir ao encontro do Hugo no local combinado. Era esse o rapaz que ia conhecer. Após termos bebido um café com os irritantes amigos dele fomos embora os dois e acabamos por correr vários bares. Bebi demasiado o que a partir de certa altura da noite fez com que eu ficasse gradualmente demasiado descontraído para experimentar viver novas situações. A certa altura o Hugo sugeriu que fosse-mos até uma sauna. Já tinha ido a algumas várias vezes, mas nunca durante a noite e tinha bastante curiosidade em saber o que se passava por lá a essas horas. No entanto não estava muito seguro daquilo que ia fazer e a atitude do Hugo não ajudou em nada. Senti-me completamente posto de lado quando entramos numa das saunas da cidade o que me levou a decidir que o melhor seria arranjar uma alternativa.
Fiquei surpreendido por ver que alguns rapazes pinavam descontraidamente à frente de toda a gente. Reparei que vários deles andavam apenas à procura disso. Alguns até me despertaram bastante o interesse, o que me levou a ponderar em participar nessa espécie de orgia. Houve um em particular que me captou a atenção… Vi-o a entrar para uma sala e pus-me a imaginar o que ele iria fazer. Entretanto o Hugo sugeriu irmos para um quarto escuro. Era precisamente para essa divisão que o tal rapaz tinha ido mas quando nos dirigimos para lá saiu e veio na nossa direcção. Cruzou-se comigo e notei que reparou em mim… Observou-me atentamente nesse curto espaço de tempo. Fiz o mesmo com ele. No entanto ambos seguimos o nosso caminho… Inconformado acabei por ir mais longe… Antes de entrar no quarto escuro procurei-o com o olhar e ao encontrá-lo fiz com a cabeça um aceno convidativo para que ele voltasse novamente ao sítio que tinha acabado de deixar. Fechei lentamente a porta para ver se o convite era aceite. Fiquei com impressão de ser bem sucedido, ele tinha sorrido para mim. Deixei que a porta se fechasse totalmente. Sem querer acabei por ir contra o Hugo, a reacção e a forma ríspida com que me disse para ter cuidado fez com que deixa-se de lhe prestar a mínima atenção o resto da noite e nem sequer me dei ao trabalho de lhe responder.
Senti-me então perto da porta e fiquei à espera que o tal rapaz jeitoso entrasse.

Marco