sábado, outubro 16, 2004

Contos urbanos contados na primeira pessoa: II



Nessa noite não fodemos…. Virou-se para mim e disse-me que precisava de ir à casa de banho deixando-me de seguida. Esperei cerca de vinte minutos pelo regresso Dele, mas não voltava, então dirigi-me ao bar onde pedi uma vodka limão, pois precisava de descontrair um pouco. Tinha sido bastante intenso o que aconteceu deixando-me ansioso o facto de ter sido abandonado.
Enquanto esperava pela minha bebida acendi mais um cigarro percorrendo varias vezes o local com o olhar para ver se O encontrava, mas nada. Reflecti um pouco sobre o que tinha acontecido, mas não durante muito tempo uma vez que os meus pensamentos foram interrompidos por alguém que me pediu lume, olhei para o rapaz directamente nos olhos e reconheci-o, o que me fez sorrir cinicamente enquanto procurava no meu bolso o isqueiro, que ao fim de pouco segundos se encontrava nas suas mãos sendo devolvido juntamente com o comentário: - vejo que o teu amigo conseguiu resistir-me e aos teus olhos azuis mas eu não sou tão forte quanto ele. Sorri; é sempre bom ser engatado, confesso que me levanta bastante a auto estima, iniciei uma conversa com o rapaz até que O vi a vir na minha direcção, olhando para o intruso ao meu lado com uma expressão interrogativa, que de seguida foi trocada por outra dotada de uma seriedade que até então nunca tinha sido manifestada perante mim. Reparei que os dois ficaram sem saber muito bem como reagir mas Ele, como sempre, com uma atitude calma, embora desta vez mantida com um pouco de esforço, aproximou-se de mim e disse-me que a sua demora se deveu à fila enorme que estava para ir à casa de banho e que quando finalmente tinha conseguido mijar, encontrou um conhecido que não o largou até quase lhe vomitar em cima. Após me ter dito isso esboçou um sorriso forçado, olha de lado para o rapaz e disse-me que se ia embora. Propus sair com Ele mas obtive uma resposta negativa acompanhada da última frase que me dirigiu nessa noite: - vejo que há pouco o devia ter deixado participar. Olhou primeiro para mim, depois para o rapaz, e antes que eu tivesse alguma reacção virou-se e dirigiu-se para a caixa de pagamento. Tentei ir ou seu encontro mas fui impedido por uma mão que me prendeu, dei meia volta um pouco irritado enquanto me libertava calmamente, olhei para o rapaz e disse-lhe que conversaríamos noutra altura o que foi aceite com um aceno de cabeça acompanhado de um enorme sorriso, virei-me bruscamente em direcção à caixa, mas devia ter controlado esse impulso que foi seguido de um único passo antes de ter uma quantidade incrível de cerveja em cima e de alguém a olhar para mim com uma cara ameaçadora acompanhada de uma chamada de atenção para ver por onde ando. Mas essa cara rapidamente mudou de expressão… era o um conhecido meu, integrado no grupo daqueles que pensam que ficam nossos amigos após se ter ido uma vez para a cama com eles, que começou entusiasticamente a falar comigo.
Enquanto isto acontecia, olho em direcção à porta de saída… vejo-O a ir-se embora sem se virar uma única vez na minha direcção. Não me restou mais nada a não ser acalmar enquanto ouvia vezes sem conta o quanto uma noite qualquer tinha sido inesquecível, o quanto é incrível o meu sedoso cabelo castanho, o meu bronze e o meu corpo tonificado.

Jorge