sábado, outubro 16, 2004

Contos urbanos contados na primeira pessoa: IV



Quando saí do bar ainda esperei por Ele enquanto fumava um cigarro. Fiquei à espera um pouco mais abaixo (da saída da discoteca) encostado à parede enquanto pensava no que tinha acabado de acontecer. Estava a custar-me aceitar o facto de O ver conversar tão entusiasticamente com outra pessoa. Seria eu apenas mais um engate? Eu não O via dessa forma, tinha criado a ilusão que Ele também não me via assim. Não apareceu… confuso e um pouco magoado decidi ir para casa.
Enquanto me dirigia ao carro, encontrei duas caras conhecidas, perguntaram se estava bem, respondi que sim, não me estava a apetecer partilhar o que estava a sentir naquele momento. Mantivemos uma breve conversa de circunstância e segui o meu destino, enquanto continuaram alegremente para a sauna.
Quando cheguei a casa não estava cansado, muito pelo contrário, estava demasiado à alerta, demasiado frustrado, sentia a impotência a apoderar-se de todo o meu corpo. Nessa noite tinha falhado. Ainda não tinha conseguido. Incomodava-me o facto de ser visto como mais um, sobretudo estando Ele em questão. Mas ao mesmo tempo pensava demasiado em todo o contacto que ouve, excitavam-me estes pensamentos.
Na falta de melhor alternativa decidi ir até à Internet ver um pouco de pornografia, de certeza que iria acalmar se me masturba-se antes de deitar… foi o que fiz, descarreguei um vídeo onde o sexo era rude e impessoal. Olhava para a expressão da cara de ambos, da de prazer do rapaz que estava de pernas abertas a ser penetrado e para a primitiva do que o possuía. Os gemidos pareciam sinceros aumentando de intensidade à medida que o activo penetrava com cada vez mais violência. A junção do que estava a ver com o que tinha acontecido fez-me rapidamente ter uma erecção. Desapertei o cinto das calças e de seguida os botões, libertei-me dos boxeurs e comecei a acariciar-me sentado na cadeira em frente ao ecrã do computador, sentia a excitação no meu corpo acompanhada de um travo de insatisfação. Acariciava-me cada vez com mais intensidade e comecei a pensar exclusivamente Nele, e quanto mais pensava mais perto de me vir me encontrava, pensava nos olhos Dele, na forma como me tocou, na forma como me beijou, mais uma vez nos seus olhos quando deixei de controlar o ritmo e vim-me… Fiquei surpreendido com a minha reacção, não consegui controlar o gemido que soltei, senti um arrepio demasiado intenso a percorrer toda a espinha em direcção à cabeça, como que de uma injecção de uma droga se tratasse, senti os músculos das pernas a contraírem-se uma, duas, três vezes. Fiquei desorientado. Soltei uma lágrima que me escorreu pela face em direcção ao pescoço e voltei lentamente à realidade… Ele neste momento estava com outro. Limpei-me e fui até à varanda onde me pus a fumar mais um cigarro e a pensar nas reacções que Ele era capaz de me provocar. Os meus pensamentos foram interrompidos por dois carros que pararam lado a lado em frente ao edifício, onde ficaram assim por breves instantes, não reconheci nenhum deles. Passado pouco tempo passou uma mota a alta velocidade, e foi por essa altura que acabei de fumar o último cigarro da noite, senti-me esmorecer, fui para o quarto onde alcancei uma leve sensação de segurança. Estava no meu território, no entanto a essa sensação juntou-se um grande vazio… não se encontrava ninguém à minha espera na cama para o preencher!

Manuel