quinta-feira, dezembro 16, 2004



“Por vezes, temos dificuldades em nos situar num mundo onde a realidade é progressivamente manipulada e definida pela omnipresença de imagens comerciais. Imagens que se dimensionam em artefactos produzidos em série, num contexto saturado de solicitações, onde nada pode alcançar um estado capaz de exprimir a totalidade daquilo que nos cerca. O que surge como arte são tentativas sempre parciais de captação e interpretação do real em mudança. (…)
A cultura de massas funde-se na multidão de personagens. Seres amorfos manipulados como meios propagadores de consumo e peças obedientes da grande indústria do entretenimento. O mais interessante e o mais estranho em todas as personalidades construídas no vazio de conteúdos culturais é o facto de continuarem a deixar-se arrastar pelo enorme fascínio que supera em nitidez a realidade de onde partiram. A ideia de miragem na qual não existe distinção entre o conteúdo e o sucesso; o acontecimento da glorificação. As relações entre arte, músicos, instrumentos, géneros, tipos, discursos e o seu contexto exterior já foram estáveis. Actualmente são parcelas secundárias de uma conjuntura definida segundo uma óptica comercial. Relegados que estamos para as margens da cultura, os assuntos de estética, da ética, da autenticidade, da originalidade ou da criatividade já não nos asseguram nada.”

Ivo Martins in Op #14