terça-feira, março 22, 2005

Arte que alcançou o 7º lugar


"Nadja" de Michael Almereyda

Vlad Drácula, príncipe romeno conhecido como “O Empalador”, é a figura histórica que inspirou a lenda do vampiro Drácula. A lenda muito popular nos finais do séc. XV e durante o séc. XVI caiu no esquecimento até ao século XIX, quando o escritor irlandês Bram Stoker decidiu ressuscitar o príncipe romeno no seu romance “Drácula”. Desde aí até aos nossos dias, o Conde Drácula foi protagonista de mais de uma centena de filmes, encontrando a sua imagem mais poderosa em Bela Lugosi que fascinou o mundo inteiro durante décadas.
Michael Almereyda similarmente encontrou a sua inspiração no romance de Stoker na escrita e realização de “Nadja”. Neste filme porém não se adapta novamente o livro para o grande ecrã - embora se apresente a sua estrutura base - cria-se antes uma nova história de vampiros inserida num ambiente típico de filmes “noir”.
Nadja (Elina Löwensohn) é uma vampira romena que vive em Nova Iorque, onde caça vítimas pelos bares, assistida pelo seu servo Renfield (Karl Geary). Van Helsing (Peter Fonda), acaba de matar Drácula e procura agora o rasto dos seus dois filhos: Nadja e o irmão gémeo, Edgar (Jared Harris), que se encontra em débil estado de saúde sendo auxiliado e tratado por uma enfermeira, Cassandra (Suzy Amis), que sofre do “Complexo de Enfermeira” - i.e., apaixonou-se pelo paciente. Jim (Martin Donovan) o sobrinho de Helsing, vive um difícil momento da sua relação com a esposa, Lucy (Galaxy Craze), que se deixa arrastar por bares nocturnos onde acaba por encontrar Nadja. Os problemas que têm diversas fontes parecem encontrar uma única solução relacionada com a jovem vampira e com uma estaca de madeira.
Almereyda elabora desse modo a sua história de vampiros, tratando adequadamente o argumento e estudando delicadamente a beleza enigmática de Löwensohn - criando momentos fascinantes tal como um onde esta desliza numa rua ao som de música dos Portishead - para além de deixar que referências a David Lynch e Hal Hartley se manifestem explicitamente. De Lynch, para além de o usar como actor na interpretação do papel de um funcionário da morgue onde se encontra o corpo de Drácula, usa o elemento câmara como uma espécie de narrador; um canal que serve para descrever visualmente a intensidade das situações com que as personagens se deparam, para isso recorre por exemplo ao uso de grandiosos contra-planos e ao focar e desfocar de vários elementos em posições de profundidade diferente, tudo isso sobre um preto e branco magnífico. O uso da câmara com tal característica complementa de forma eficaz as referências feitas a Hal Hartley, que surgem não só através do uso de dois dos actores habituais dos seus filmes - Elina Löwensohn e Martin Donovan- mas também por ambos representam com o mesmo distanciamento emocional característico dos filmes desse realizador.
“Nadja” é uma experiência sensorialmente estimulante, em particular para quem aprecia o universo de Lynch e o estilo narrativo de Hartley. Uma preciosidade perdida no universo da sétima arte. (9/10)