terça-feira, maio 03, 2005

Nina Simone


Nina Simone (1933 - 2003), cantora, pianista e compositora disse: “Jazz é uma palavra branca para uma música negra.” Com essa frase, para além de definir grande parte da sua personalidade, rejeitou o estereótipo, piedosamente concedido pelos brancos, de “musa do jazz” (expressão usada para definir as cantoras negras das décadas de 50 e 60). Recusa que bem pode ter sido a responsável por a levar a investir e a remodelar os mais variados estilos musicais.
Perpétua a sua índole forte com a tomada de uma inconformada posição em relação à situação dos direitos civis nos Estados Unidos. Num país onde via aplausos e racismo a caminharem de mãos dadas deixou a sua marca indelével no cenário político: tomou uma postura absolutamente contrária à discriminação racial renunciando, em 1969, a sua nacionalidade, a propósito do assassinato do líder pacifista Martín Luther King. Defendeu ainda outros direitos universais, nomeadamente os femininos, devido aos quais chegou a ver canções suas proibidas nas emissoras de rádio de Filadélfia e dos Estados Unidos.
O que ainda irá perpetuar é sua incontestável versatilidade a nível artístico. Explorou os territórios do soul, dos blues, do gospel, de canções tradicionais e da pop com a mesma destreza que os do jazz. O modo inconfundível como tocava piano, influenciada pelo grande senhor do swing Duke Ellington, atravessa todas as suas canções, migrando com grande perícia entre os silêncios e as pausas para arranjos arrebatadoramente fortes, ásperos e elegantemente desconcertados. A sua interpretação, nem tanto pela técnica, mas devido à emoção e à forma como se entrega nas canções, poderia ser classificada como soul. Tudo isso acompanhado por um timbre fragoso de uma voz rasgada, intensa e passional, que tanto conseguia ser agressiva e desgostosa como sofisticada; revestindo a força de uma personalidade que viu o seu talento comparado ao de Billie Holliday (considerada a maior intérprete de jazz de todos os tempos pelos críticos).
Faleceu em sua casa, aos 70 anos, em plena actividade.