terça-feira, julho 26, 2005

Arte que alcançou o 7º lugar


La Pianiste” by Michael Haneke

Michael Haneke é perito em realizar filmes onde se exploram condições limite da dimensão humana. Em “La Pianiste” recorre-se à união da abjecção com o grandíloquo para expor, de modo perturbante, algumas vivências extremas que o ser humano é capaz de experimentar. Mas não só; também se anda em redor do ganhar a consciência, e o desejo, para que essas vivências se desenvolvam, revelando assim o que de oculto se pode encontrar numa personalidade. São esses os pressupostos que o realizador aborda, com notável precisão, e com os quais se debruça sobre as duas personagens centrais do filme.
Erika Kohut (Isabelle Huppert) é professora de piano no Conservatório de Viena. Aos 40 anos ainda vive com a sua opressiva mãe (Annie Girardot), que a vigia constantemente, e de quem apenas consegue escapar em incursões regulares que faz a salas de cinema pornográfico e “peepshows”. A sua sexualidade só é vivida através de actos de “voyeurismo” e de auto-mutilação. No entanto esse mundo está prestes a ser abalado por Walter Klemmer (Benoît Magimel), um jovem que decide seduzi-la. A relação por eles desenvolvida revela-se um autêntico exercício de sanidade, onde encontramos uma mulher que não quer perder o controlo, mas que já o perdeu há muito tempo; e um homem que está prestes a perde-lo.
Esta desarmante viagem é eximiamente conduzida por Huppert e Magimel, que com grande dedicação se entregam às suas personagens. De salientar ainda o empenho do realizador na banda sonora, não só pela qualidade excepcional que tem - ouvem-se por aqui grandes compositores, tais como Schubert e Bach - mas também pela forma apaixonada de a apresentar.
E assim Michael Haneke levanta mais uma vez questões sobre o que é representável ou não, assim como sobre a utilidade que se pode dar ao cinema... Entretanto vai dando as respostas. (8,5/10)