domingo, julho 10, 2005

Arte que alcançou o 7º lugar


Tarnation” by Jonathan Caouette.

Jonathan Caouette decidiu pegar em 160 horas de “home movies” (filmados por ele ao longo de 20 anos), “shows” de TV, vídeos e canções, e fazer uma versão da sua vida condensada em 2 horas, numa manifesta intenção de catarse pessoal.
Assim o filme(/documentário) de Caouette ora oscila entre o documentário, no uso dos registos factuais da sua vida (e daqueles que a rodeiam, nomeadamente aqueles com quem estabelece laços familiares e afectivos); e a ficção, na reconstrução e manipulação feita desses factos enquanto realizador de “Tarnation”. Ora bem, é justamente nessa dualidade onde reside o melhor e o pior deste filme(/documentário).
É óbvio que se usam vários recursos cinematográficos e artísticos para o resultado final. Para além de exibir uma narrativa romanceada da sua vida pessoal (que tanto podia ter sido a apresentada como outra qualquer), usam-se outras técnicas, nomeadamente o uso de vários efeitos de montagem, o de uma excelente banda sonora e da apresentação de algumas encenações (feitas pelo próprio Caouette enquanto actor). Tudo artifícios que podem desviar a atenção daquilo que é realmente exposto.
E o que realmente é exposto? Expõe-se uma narrativa elaborada maioritariamente a partir de uma série de sequências que são constituídas por registos reais da vida de pessoas (é a sua existência no mundo real que se apresenta). Abrem-se as portas da casa de uma família constituída por elementos que têm problemas tanto físicos como psicológicos (que são reais, não ficcionados - insisto), rica sobretudo em neuroses. A exploração sentimental feita ao espectador passa acima de tudo por aqui, pela óbvia intenção de o indignar com factos autênticos. Mas isso pode agora levantar uma série de questões éticas, o espectador não pode assim regressar da experiência (ambígua) que acaba de experimentar conformado, não pode regressar ao mundo real de forma tranquila, porque aquilo a que assistiu afinal de contas não é ficção.
“Tarnation”, se bem que de forma não intencional, torna-se numa das possíveis previsões anunciadas pelo efeito "Big Brother". Pode-se agora reflectir sobre este caminho que o cinema poderá seguir, e se aquilo que o público pretende ver no grande ecrã é a exploração da vida real (em vez da exploração da inspiração feita a partir dela). (?/10)