sábado, agosto 05, 2006

Harmonias

“The Eraser” by Thom Yorke.

No suplemento Y de 7 de Julho de 2006, do jornal Público, João Bonifácio escreveu sobre o mundo que Thom Yorke construiu até editar “The Eraser”, o seu primeiro álbum a solo. Estamos de acordo com aquilo que é dito... Thom Yorke é possuidor de um talento único e está-se longe de lhe reconhecer a dimensão do trabalho que tem vindo a desenvolver. Tem no entanto a seu favor o facto de ser reconhecido enquanto génio, embora muitas das vezes de forma indolente, mas irá de certo ser alvo de várias análises que posteriormente irão dignificá-lo como merece, tornando-o num símbolo daquilo que a pós-modernidade é, e o impacto que esta provoca no individuo.
“The Eraser” não é à partida uma surpresa. Já se teriam ouvido insinuações do criador no mapa interno agora traçado nos álbuns dos Radiohead, ou não tivesse Thom Yorke assumido toda a responsabilidade na criação daquele que é um dos mais magníficos objectos musicais da viragem de milénio – “Kid A”. Foi arrojada e provocante a metamorfose operada em termos sonoros em relação ao seu antecessor, o descomunal “Ok Computer”; mas estaria longe de ser uma ruptura artística perante ele; assim como o não é “The Eraser”, perante a obra dos Radiohead. Não se pretende retirar o mérito que têm os restantes elementos da banda enquanto pertencentes a um mesmo conjunto engenhoso, a análise aqui no entanto apenas está a passar por Thom Yorke, e é perante este ponto de vista que se reconhece que existe uma constância de linguagem utilizada ao longo do trabalho do músico, uma espécie de assinatura, se assim se lhe quiser chamar, que permite reconhecer aquilo que é emanado dele. Não será apenas a admirável criatividade ao longo da sua carreira, uma das melhores de sempre, assente nas suas paranóias; arrisca-se a dizer que se está perante o exorcismo da imensurabilidade de visões catastróficas traduzida em elementos sonoros. E se bem que isso possa parecer mais ou menos óbvio, evidente não será a percepção da sua obra enquanto tal, porque se o fosse provavelmente não se conseguiria ouvir novamente a sua música após ganhar-se de facto a consciência da profundidade dessa noção. Porém não é esse o tipo de aproximação que se faz à Música enquanto arte, está-se longe de afigurar poder-se reconhecer uma obra-prima que, por sê-la, tem de ser rejeitada, muito menos neste meio em questão; assim será mais confortável ser-se auditivamente negligente perante “The Eraser”. Thom Yorke já afirmou que a música que cria deixa-o doente, verosimilmente é assim que o ouvinte fica ao acercar-se verdadeiramente da sua obra, daí o seu mérito. (9/10)

Para além de ser de “Thom Yorke”, “The Eraser” também é de Stanley Donwood. Este último, o responsável pela assombrosa parte gráfica do álbum.
Stanley Donwood, que também tem vindo a desenvolver o design gráfico dos trabalhos dos Radiohead, criou “London Views” que acabaria por vir a figurar em “The eraser”. O trabalho é inspirado em ilustrações de um apocalipse medieval de Michael Wohlgemut & Wilhelm Pleydenwurff, presentes numa compilação de Hartman Schedel, publicada em 1943, que traça a história do mundo desde a sua criação até à presente data, com o nome de Liber Chronicarum.
O representado em “London Views” é uma visão apocalíptica do estuário do rio Tamisa, com as edificações emblemáticas de Londres rio acima impotentes perante a vastidão da destruição. Será com certeza um imaginário que complementa magnificamente a audição do álbum e que faz com que o objecto musical se torne ainda mais precioso.

London Views” by Stanley Donwood.