domingo, agosto 20, 2006

Arte que alcançou o 7º lugar


“Innocence” by Lucile Hadzihalilovic.

“Innocence” de Lucile Hadzihalilovic retrata a educação nas áreas do ballet e da natureza que uma série de meninas recebem num colégio localizado num bosque isolado do mundo; um sítio deslumbrante mas estranho, capaz de provocar uma série de reacções comportamentais divergentes a cada uma das personagens, e onde não existem adultos, salvo algumas criadas idosas e duas melancólicas jovens tutoras. O filme assim apresentado poderá logo à partida não provocar grande exaltação no entanto se for adicionado o dado que o argumento de “Innocence” foi criado com base na adaptação de “Mine-Haha ou a educação corporal das meninas”, uma obra de Frank Wedekind (o mesmo autor de “Lulu”), será então de esperar que uma áurea de controvérsia se instale à volta do filme. A controvérsia instalou-se decididamente, e a própria realizadora fez questão de a espicaçar ao admitir que o filme pode ser alvo de acusações de perversão. As acusações teriam assim de acontecer... uma abordagem simplista do filme pode desde logo reduzi-lo a um exercício de instigação à pedofilia; no entanto talvez aqui a máxima - adaptada para este contexto -, de que a depravação está no olhar de quem vê o filme dessa forma, se adeqúe na perfeição. É um facto que o filme não se preocupa em esconder a sexualidade das meninas, apresentando-a exemplarmente de modo quase pictórico em determinados enquadramentos, mas trata-se de uma sexualidade que é de todo debilitada pela própria candura da interpretação das personagens e pelo próprio olhar que a realizadora acaba por ter perante elas, o que faz com que seja emanada uma forma pura e genuína de beleza, que por perturbar o espectador inibe qualquer aproximação ao desejo sexual. É a inocência que o filme aborda, e aborda-a magnificamente em diversos níveis que, em vez de serem explorados, vão sendo simplesmente apresentados para que se levantem questões que ficam a cargo de serem respondidas pelo espectador.
Ultrapassada a controvérsia do argumento temos a realização. A realização deste filme é soberba, segura e engenhosa. Trata-se mesmo de uma estreia prodigiosa a esse nível, existem ali dos melhores planos feitos para cinema, trabalhos de “traveling” magníficos e uma captação de imagem extremamente lúcida, uniforme e coerente. Benoît Debie, o director de fotografia, é também plenamente eficaz no controlo do imaginário do filme, ajudando a criar um ambiente que tem tanto de resplandecente como de sinistro. Ambos, o director de fotografia e a realizadora, fazem assim com que o filme seja visualmente extravagante e que a transfiguração do meio realista em que se desenvolve seja ludicamente tornado onírico (algo raro de se ver concretizado convincentemente no cinema).
O filme tem vindo a arrecadar tanto críticas entusiastas como críticas arrasadoras, agora; nada demove que o nome de Lucile Hadzihalilovic seja desde já uma referência para quem aprecie cinema, tanto a nível técnico como a nível de instrumento de debate. (9,5/10)

[TRAILER]