sábado, agosto 12, 2006

Harmonias

“Whip It On” by The Raveonettes.

E porque há discos aos quais se volta amiudadamente por este ou por aquele motivo, fica aqui um olhar do álbum “Whip It On”, o primeiro dos Raveonettes, originalmente editado em 2002.
“Whip It On” foi um dos lançamentos inserido na vaga revivalista do Rock que se iniciou na primeira metade da presente década. Logo à partida o imaginário utilizado desperta a curiosidade e o interesse pelo objecto: o uso das estéticas inventadas nos filmes “Noir” e de “Série B” dos passados anos 50 e 60 tanto na parte gráfica do álbum como nos vídeos. A curiosidade é também espicaçada pelo facto de o álbum ter um som “estereofónico explosivo” e de apenas ser gravado num único tom, um “glorioso si menor"; como se publicita na capa do disco. Sabe-se ainda à partida que na feitura das oito canções se recorre apenas a três acordes, sendo que a duração de cada uma praticamente nunca ultrapassa os três minutos... E depois há as referências musicais a Jesus and Mary Chains e Velvet Underground; e, nas letras, a menção à geração “Beat” da literatura, com Jack Kerouac em destaque. O álbum tem assim todos os ingredientes necessários para se proceder à sua audição, na expectativa de se encontrar aquilo que todas as referências evocam: sexo, drogas e rock’n’roll; com todo o entusiasmo que a ideia contém em si, tudo integrado num ambiente soturno.
Depois ouve-se o álbum, e este passa como um autêntico furacão. O que é sugerido antes da audição é cumprido e os seus quase vinte e dois minutos de duração, sustentados no ruído e na fúria dos pedais de distorção, são dos mais excitantes que se ouviram no ano de lançamento do álbum. Acima de tudo o álbum é isso, excitação... habilmente retirada da densidade de alucinações nocturnas provocadas por estupefacientes e dos comportamentos desviantes que daí advêm, cerebralmente bem pensada e lucidamente bem executada nos dogmas utilizados.
Uma estreia colossal, aonde se apresenta um disco capaz de manter toda a sua intempestividade e coerência no decurso das audições que recorrentemente se farão a ele. (9,5/10)

Sune Rose Wagner


Sharin Foo