sexta-feira, janeiro 28, 2005

Leituras entre lençóis


"Crash" de J. G. Ballard

“Escritor de enormes poderes inventivos, Ballard revela, tal como Calvino, um notável talento para mostrar os espaços vazios e devastados da vida moderna, com as suas cidades invisíveis e os espantosos mundos da imaginação”

Malcon Bradbury, no New Tork Times Book Review


Escrito por J. G. Ballard em 1973, “Crash” é um romance negro que documenta os escapes sexuais de um realizador, James, que sucumbe ao místico de um desvairado cientista convencido que a função dos desastres automóveis são uma potente metáfora sexual. Ao longo de auto estradas James e sua mulher, Helen, envolvem-se numa sub cultura onde descobrirão novas formas de sexualidade, confrontando o desejo e a morte, num desafio onde se tem a consciência que um dia a morte vencerá.
Esta invulgar premissa é analisada por Ballard com exacta precisão. Apresenta-se um reino cru e brutal que se encontra seduzido pela tecnologia onde o fetiche por esta será válido numa complexa e cadente ambiguidade, onde se exploram os limites do corpo, onde as relações com a realidade parecem estar em crise. “Crash” é a narrativa de um possível território de escape.
Claro que “Crash” está longe de se encontrar limitado ao imaginário dos desastres de viação; tendo como intuito levantar inconcebíveis questões numa sociedade evoluída que agora se tornam pertinentes: Com a alta tecnologia que dispomos, que meios imagináveis para realizarmos as nossas psicopatologias são proporcionados? Estará isto relacionando com uma perversão inata que possivelmente nos é benéfica? Existirá alguma lógica que é mais poderosa do que a desempenhada pela razão?
Não será assim de estranhar que “Crash” esteja preparado para chocar e obrigar a pensar na concepção do nosso corpo; revelando, de forma muitas vezes violenta, as mais profundas obsessões do ser humano; conseguindo ser ainda uma sofisticada narrativa que seduz e hipnotiza de forma perturbante. (10/10)