sábado, novembro 19, 2005

E inovação, não há?!...

Alguns dos lançamentos mais aguardados para o ano de 2005 na área da música podem não ter surpreendido, no entanto parte deles também não desiludiram. Os grupos que se seguem distinguem-se do panorama musical actual por já terem mostrado o seu poder de criação e por continuarem a compor canções eficazes, embora presentemente não se destaquem por terem o carimbo de invenção antes do tempo. Isso porque quando uma fórmula é usada mais do que uma vez corre-se o risco de esgotar o acto criativo – amansar a sua arte – se bem que possa continuar a revelar-se convincente.


O regresso dos Goldfrapp faz-se com “Supernature”, onde uma visita aos dois registos anteriores da banda parece ser evidente. Evoca-se sobretudo o prazer carnal de “Black Cherry”, no entanto os ambientes contemplativos de “Felt Moutain” também se encontram presentes. A voz de Alison continua perturbante, única, agora mais dada à exploração de novos registos do que a devaneios vampíricos. Destaque ainda para a sedutora apresentação do disco. (7/10)


“No Wow” é o título do segundo álbum dos The Kills, que agora se apresentam mais dóceis. Elaboraram um registo menos ruidoso que o anterior “Keep In Your Mean Side”, no entanto a base da composição continua a mesma. Os ambientes continuam a apresentar-se irreverentes, quentes, íntimos e muitas das vezes contagiantes, mas uma certa sujidade e inconformidade parece ter-se ido, e que só lhes ficava bem. (7/10)


Os The Raveonettes exploram em “Pretty In Black” territórios da música folk americana e põem de lado alguma dose de cinismo que prevalecia nos álbuns anteriores, adoptando assim uma luminosidade que até à data não lhes era reconhecível. Encontramos a voz de Sune Rose Wagner mais amadurecida (prometendo que ainda se podem esperar boas surpresas dela) e uma Sharin Foo mais participativa. O registo contém um bom punhado de excitantes canções, sobretudo aquelas que são atravessadas por uma veia psicadélica, se tivessem optado por deixar algumas das restantes fora do lote (arriscando novamente a apresentar um álbum de curta duração) poderíamos estar perante outro registo superior saído das mãos do grupo. (7/10)


A proposta dos Queens Of The Stone Age para suceder o excelente “Songs For The Deaf” dá pelo nome de “Lullabies To Paralyze”. Desengane-se quem se deixa fiar pelo título, aqui o único tema parecido com uma balada é o de abertura do álbum, a partir daí tudo o resto pode paralisar, mas nem sempre deslumbrar. Continua-se a fazer música bem pensada, composta e executada. Neste registo existe uma maior dedicação à exploração de territórios cerebrais, em detrimento dos impulsos do corpo, tornando-se assim tudo mais paranóico e menos pujante. Dá-se a conhecer mais um álbum denso, equilibrado, onde se monstra uma vez mais que sem dúvida se tratam de grandes músicos, liderados por um bom vocalista, mas a quem faltou um pouco de graça na fluidez dos arranjos. (7,5/10)

Aconselha-se a audição dos álbuns anteriormente referidos, até porque se toda a música que por aí se faz tivesse a qualidade desta tanto as rádios como os canais televisivos de música não estariam tão cheios de “lixo industrial”. Porém fica o aviso: são álbuns indispensáveis para os fãs, mas podem não ter o fôlego necessário para convencer os mais cépticos ou para conquistar novo público se não se escolherem “singles” certeiros.