segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Earl & Mooch

sábado, fevereiro 19, 2005

1 amigo em 150 palavras – (III)

Não perguntas, não pergunto… A reposta sabe-se, não se quer saber, não interessa. Vivem-se momentos aonde manifestações de afecto, manifestações cruéis, manifestações autênticas, manifestações falsificadas, são permitidas; surgindo inesperadamente o que deveras interessa.
Leste o longínquo conto escrito por ti… não se comentou… a convicção de que um passo foi dado emergiu disfarçada; o sufrágio confiado apoderou-se do momento. Ao ver-te ultrapassar a dificuldade da partilha e observar esta a volver-se real, com o conteúdo que aquelas palavras escritas encerram, tornou impotente qualquer gesto, qualquer dizer; sendo inoportunos se desprovidos de intensidade igual que dificilmente se encontra por se ter consciência da dimensão daquilo que se sente. Tocou-me… entrei em contacto com uma maturidade desencantadamente edificada.
Hás-de ser sempre o momento aonde nunca sei aquilo que és ou o que posso encontrar… És tu… Nunca serás aquilo que escrevo e tudo aquilo que possa escrever são apenas trechos que abandonas…

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Let’s rock



A primeira metade da primeira década do terceiro milénio no mundo da música há-de ficar indubitavelmente marcada pelo revivalismo do universo rock n’ roll.
Inicialmente a nova febre pelo rock foi descrita de forma simplista, argumentando-se que era “retro” e se fundamentava na vontade de restituir energia à pop. Certo é que após anos de produção rígida nesse território, comandada por leis de mercado e sobretudo pelos interesses das multinacionais, eis que o rock volta às caves fumarentas e às garagens; enchendo novamente de frescura, de garra e de criatividade o mundo da música.
Procurando, desde o início e acima de tudo, autenticidade, uma primeira vaga, a surgir sensivelmente em 2001, lançou as premissas que esboçam o movimento – retorna-se à rudeza e excitação do rock revisitando as suas fundações, nomeadamente o blues e o garage – onde se criam personalidades que muito devem a uma estética contagiada pelo decalque de sonoridades passadas; no entanto não impede que os grupos desta vaga deixassem nos seus registos uma identidade pessoal vincada, como se pode constatar na audição de álbuns de grupos como The Strokes, The White Stripes e Black Rebel Motorcycle Club. A segunda vaga, a surgir em 2002, trouxe consigo multiplicidade estética e liberdade estilística com The Raveonettes, Interpol e Yeah Yeah Yeahs – continuando assim a alimentar o hype generalizado onde as principais publicações, de música e de moda, se rendiam aos encantos de muitas bandas que surgiam. No entanto foi também nessa altura que se começou a pressagiar uma nova morte do rock para o seguinte ano - quem o fez foi obrigado a engolir essas palavras - atacando em cada vez mais vertentes, o rock, em 2003, traz consigo uma série de bandas novas, The Kills, Liars, Kings of Leon; assim como galardões para os grupos da primeira vaga ao verem novamente reconhecidos pela crítica internacional os novos trabalhos editados; dando assim não só a possibilidade a grupos que apesar de terem uma “carreira” só então conseguem chegar ao grande público, mas fazendo também com que o fenómeno se arrasta-se até, e por, todo 2004 onde a chegada de álbuns de Franz Ferdinand, The Killers e !!! (Chik Chik Chik) foram responsáveis pela continuação do hype. Surge agora 2005 com promessas de novos trabalhos das bandas que surgiram até então e com grandes expectativas depositadas neles… Entretanto… Let’s rock...

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

O passeio inesperado


Untitled Night Painting by Wayne Jiang

Quando parece que já nos decidimos a ficar por casa à noite, tendo posto o blusão caseiro e estamos sentados com o jantar à frente e uma vela a iluminar os afazeres, ou o jogo, com que nos vamos entreter antes de ir para a cama, quando o tempo lá fora está tão mau que o mais natural é ficarmos em casa, e quando já estamos sentados e calados há tanto tempo que a nossa saída seria para todos uma surpresa, quando, para além do mais, as escadas não estão iluminadas e a porta de frente já está trancada, e apesar de tudo isso somos impelidos por um impulso súbito a levantarmo-nos, a trocar de blusão, a vestirmo-nos à pressa para ir à rua, a explicarmos que precisamos de sair, a despedir-nos com algumas palavras breves e a sairmos, batendo com a porta com mais ou menos força dependendo da reacção das pessoas que ficarem em casa, e quando nos vemos na rua uma vez mais, com os membros a balançar mais livremente que nunca, em resposta à liberdade inesperada que lhe damos, quando, em resultado desta opção categórica, sentimos concentradas em nós todas as potencialidades de uma tal acção, quando nos apercebemos claramente de que a nossa força é mais do que suficiente para conseguirmos operar sem esforço a mais súbita das mudanças e saber lidar com ela, quando vamos caminhando pelas ruas imbuídos deste espírito – então, por uma noite, livrámo-nos completamente da família, que se esvai insubstancial, enquanto nós, uma figura firme delineada a preto, damos palmadas na coxa, assumimos a nossa real estatura.
Ainda melhor será se, a uma hora tão tardia, nos decidimos a procurar um amigo para ver como é que ele está.

Franz Kafka


"The Good Ones" by The Kills

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Earl & Mooch

domingo, fevereiro 13, 2005

The Kills – O início


“Keep on your mean side” by The Kills

Depois do EP de estreia, “Black Rooster”; o primeiro longa duração de The Kills conheceu a luz do dia sob a designação de “Keep on your mean side”. Transcreve-se em seguida uma das críticas que melhor poderá reflectir tanto o imaginário do álbum como a débil aceitação que teve - que no entanto não impediu a criação de um (mais que) merecido culto; culto esse que certamente se irá alargar com o segundo longa duração prestes a ser lançado.

“A morte saiu à rua. Transformou-se em rock n’ roll e, para não levantar suspeitas, tomou a forma de um casal como tantos outros no rock n’ roll. Inventou identidades irremediavelmente pop, para criar uma aura de rebeldia. (…) Desenhou uma história feita de raiva e paixão, cheia de obstáculos inultrapassáveis, ultrapassados pela vontade, pelo sonho e pela necessidade. Dormiu numa cave rodeada de poças de água da chuva, onde grandes letras de néon se reflectiam e lhe enchiam de luzes vermelhas a noite escura. Levou porrada da noite, dos homens, dos bons e dos maus. (…) Desafiou ídolos, fez pacto com o diabo e escreveu canções de ódio, amor, de medo, de lixo, de estupro, de violência – com algumas palavras de amor e de mãos que se agarram para não se cair. E esperou… esperou que os vivos ouvissem as suas canções e gostassem… Mas os vivos disseram que estava visto, que era igual a tudo o resto que se ouve agora, que era só mais um casal a querer soar a White Stripes, que era cópia de Patti Smith e PJ Harvey, (…) que era sujo e duro e muito cru… Que não – os vivos ousaram dizer que não! Pois “fuck the people”! A morte há-de voltar. “It´s been a long time coming” e há-de continuar. A morte saiu à rua. Transformou-se em The Kills, enfeitiçou as canções e deixou “Keep on the mean side”… Para que os vivos não se esqueçam.” (9/10)

Ricardo Sérgio in Op #11

sábado, fevereiro 12, 2005

The Kills week


"No Wow" by The Kills

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Calvin & Hobbes

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Leituras entre lençóis


“Lunário” by Al berto

Alberto Raposo Pidwell Tavares nasceu em Coimbra em 1948 e morreu em Lisboa em 1997. Ficou conhecido por Al Berto e alcançou o estatuto de ser um dos mais importantes poetas da sua geração assim como um dos mais originais. Foi possuidor de um universo com características muito próprias, onde a ideia da transgressão e do interdito servem como impulsionadores para vivências eróticas, não é assim de estranhar que “Lunário” (1988) tenha na sua génese essa matéria.
Encontramo-nos perante o relato das recordações de Beno através de uma ausência de linearidade temporal onde tudo parece passar rapidamente, uma vez que não é o tempo real que aqui passa mas sim o da memória. Recorda-se a vida daqueles que o marcaram, através da exposição da matéria de que são feitas as relações humanas. Com eles pôde alucinar sobre o amor, observar os instintos que caracterizavam cada um, estabelecer cumplicidades, ter diálogos secretos, conformar-se com os rumos que tomaram e reter na sua memória as despedidas derradeiras. Num mundo que desconhece a luz do dia, repleto de bares (aonde paira no ar o som dos Velvet Underground misturado com o ruído da multidão), onde circulam rapazes e travestis em ruas longas; tudo isso sob o efeito do álcool e de erva num jogo em que ninguém acaba por ficar com quem deseja. (9/10)


“… O que Al Berto traz de novo à literatura portuguesa, a novidade da sua obra, é o lampejo de uma identidade queer capaz de nos dar, no fio da navalha, o quotidiano daqueles que foram excluídos dos sucessivos patamares das categorias sociais.(…) Com Al Berto, a cena é brutalmente desviada dos campos de representação tradicionais (aristocracia rural, meio artístico, profissões liberais, pequena-burguesia urbana) para territórios de fronteira até então interditos: delinquência juvenil e pessoal hippie ou aparentado, todos irmanados sob o manto pouco diáfano da doutrina, ou atitude (mais esta do que aquela), dos gender fuckers. Ou seja: o homossexual como espécie. Foi desse modo que a condição homossexual se autodeterminou literalmente em Portugal…”

Eduardo Pitta in Fractura – A condição homossexual na literatura contemporânea portuguesa.


Fotografia de Al Berto da autoria de Paulo Nozolino.


terça-feira, fevereiro 08, 2005

Década de 90 revisitada


"La Llorona" by Lhasa

La Llorona é uma figura mitológica mexicana que encanta as pessoas com o poder da melancolia e da tristeza. “La Llorona” é também o título do disco de estreia de Lhasa que encontrou nessa personagem a inspiração para ilustrar as onze canções poéticas, talhadas de emoção pura, que o constituem.
Com uma estranha espiritualidade e uma pose latina trágica, mais imaginária que verdadeira, expressam-se emoções como nunca havia sido feito. Criou-se um mundo com as suas próprias tradições; que reside na imaginação daquela que é possuidora de uma voz intensamente verdadeira que canta o deserto, as mulheres ciumentas, paixões carnais, desejos irresistíveis… o amor; com o excesso de uma verdadeira ultra-romântica.
Sobrepondo a herança mexicana sobre as restantes raízes culturais e juntando o forte papel que a literatura tem na sua vida, Lhasa em meados da década de 90 (1997) dá a conhecer um misto de música popular mexicana, música cigana, trejeitos de canção francesa e de Tom Waits. Canta-se em castelhano na totalidade do registo, de forma arrastada; com uma qualidade emocional admirável, melancolicamente dramática e desintegrada de tudo o resto. Com a ajuda de Yves Desrosiers, que a acompanha à guitarra, criou-se uma das obras-primas digna de ocupar o panteão dos registos onde uma voz se faz acompanhar por uma guitarra.
Intensa e de feição irrefutavelmente verdadeira a música desta senhora está longe de tudo o que por aí se faz. Ela sabe o que é a arte de bem cantar. Lhasa é como uma história de amor, o princípio desta paixão faz-se com “La Llorona”. (9,5/10)


segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Parabéns V.



Existe em ti…
Compareceu volvendo a tua existência.
Está lá; tu sente-lo, pensas nele, acarinha-lo;

sorris em frente ao espelho,
na intimidade de um instante solitário,
num momento inesperado.

Presentemente é ele o confidente de pensamentos,
num lar envolto pelo casulo da carne de um corpo que é teu…
Aconchega-lo.

Uma semente irá brotar,
um dia irás partilha-lo com o mundo que irá descobrir.
Uma vida nova…

Mas ainda não.

Agora é teu, tu és dele.
Ele é singularmente teu…
E tu, mais que nunca, és dele.

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Fun weekend


"Attack of the ghost riders" by The Ravonettes



"Date with the night" by Yeah Yeah Yeahs



"Hello is this thing on" by Chik Chik Chik



"Seventeen" by Ladytron



"Fuck the pain away" by Peaches



"Voodoo people" by Prodigy

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Poética


"Storm and volcano" by Dimitri Kourouniotis

Horto

homens cegos procuram a visão do amor
onde os dias ergueram esta parede
intransponível

caminham vergados no zumbido dos ventos
com os braços erguidos – cantam

a linha do horizonte é uma lâmina
corta os cabelos dos meteoros – corta
as faces dos homens que espreitam para o palco
nocturno das invisíveis cidades

escorre uma linfa prateada para o coração dos cegos
e o sono atormenta-os com os seus sonhos vazios

adormecem sempre
antes que a cinza dos olhos arda
e se disperse

no fundo do muito longe ouve-se
um lamento escuro
quando a alba se levanta de novo no horto
dos incêndios

prosseguem caminho
com a voz atada por uma corda de lírios
os cegos
são o corpo de um fogo lento – uma sarça
que se acende subitamente por dentro

by Al Berto

quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Earl & Mooch

Calvin & Hobbes

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Calvin & Hobbes