sexta-feira, dezembro 31, 2004

Gustav Klimt


The Kiss


Girl-friends


Judith II


Wasserschlangen I

"The work of the Austrian painter and illustrator Gustav Klimt, founder of the school of painting known as the Vienna Sezession, embodies the high-keyed erotic, psychological, and aesthetic preoccupations of turn-of-the-century Vienna's dazzling intellectual world."

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Excursão às montanhas



“«Não sei», gritei eu sem ser ouvido por ninguém «Não sei. Se ninguém vier, olha… Não fiz mal a ninguém, ninguém me fez mal a mim, mas também ninguém me vem ajudar. Um bando de gente nenhuma. Bem, não é verdade. Só que ninguém me vem ajudar – um bando de gente nenhuma, por outro lado, era óptimo. Adorava ir num passeio de gente nenhuma – e porque não? Num passeio às montanhas, como é óbvio. Olha a gente nenhuma a acotovelar-se, com os braços levantados, os seus muitos pés caminhando todos juntos! E vestidos a rigor, pois então! Lá seguimos alegremente, enquanto o vento vai soprando em volta e por entre as frestas que os nossos corpos desenham. As nossas gargantas exultam! Nem sei como não começamos a cantar!»”

Franz Kafka

terça-feira, dezembro 28, 2004

Encontros


by JGSC

FRASES... DITAS por alguém... SOLTAS para o mundo...



"A música tem esse dois lados: o de unir muito as pessoas e o de fortalecer a solidão."

Arto Lindsay

Calvin & Hobbes

segunda-feira, dezembro 27, 2004

O Artista



“Uma noite, chegou à sua alma o desejo de moldar uma imagem d’O Prazer Que Nos Habita Um Só Momento. E lançou-se ao mundo para procurar bronze.
Mas todo o bronze da Terra tinha desaparecido; em parte nenhuma deste mundo existia metal desse que pudesse ser encontrado. A não ser o que cobria a imagem d’O Lamento Que Dura Para Sempre.
Na verdade tinha ele mesmo, com as suas próprias mãos, criado e deposto esta imagem no túmulo da única coisa que alguma vez amara na vida. Na sepultura daquilo que antes de morrer ele mais amara, colocou ele esta imagem do seu criar, para que pudesse servir como um sinal do amor do homem que não morrerá nunca, e um símbolo do lamento do homem que durará para sempre. E em todo o mundo não havia outro bronze excepto o bronze desta imagem.
Ele pegou na imagem que tinha esculpido e colocou-a numa grande fornalha, entregando-a ao fogo.
E a partir do bronze da imagem que d’O Lamento Que Dura Para Sempre criou uma imagem d’O Prazer Que Nos Habita Um Só Momento.”

by Oscar Wilde, tradução de Possidónio Cachapa in “Poemas em prosa”

quarta-feira, dezembro 22, 2004

Acontecimentos_2004 - Música


“Let it die” de Feist

“Let it die” é um álbum excepcional. Fora do comum, é uma peça única no panorama mais que decrépito da música “pop”. As onze misteriosas e apaixonadas canções motivam o ouvinte a audições consecutivas, quase que levadas até à exaustão. A voz de Feist é soberba; engana deliberadamente, dada a deambulação que esta têm; no entanto a determinação da interpretação afasta qualquer dúvida que se possa formar.
Com a ajuda de Gonzales nos arranjos, displicentemente conseguidos, Feist cria uma obra repleta de bons momentos, com base em cenários cosmopolitas alternados por outros de revestimentos mais bucólicos; que no todo se dissolvem magnificamente.
Distraidamente vemo-nos numa viajem feita por diversos géneros musicais e damos connosco a cantarolar este ou aquele refrão. Uma das melhores estreias a solo deste ano. (10/10)


Acontecimentos_2004 - Música


"Medúlla" de Björk

Björk procura constantemente deixar registadas as complexidades do ser humano. Elaborou “Medúlla” similarmente com esse intuito, recorrendo desta vez (quase que exclusivamente) àquilo que melhor pode caracterizar e diferenciar cada um de nós: a voz.
Despido de instrumentos musicais, utilizou-se a técnica de “beatboxing” para criar os ritmos, e para criar as melodias os coros e vozes. Existe no entanto uma casual utilização do piano e de algumas electrónicas de Matmos. Mas as vozes predominam; ouvindo-se Björk por tudo que é sitio. Mas também se ouve o conceituado Robert Wyatt, Mike Patton, assim como os “beatboxers” Shlomo e Dokaka; que ajudam a criar um álbum assustadoramente compassivo.
De facto Björk leva-nos numa viagem a um mundo complexo onde coexistem diversos sentimentos: medo, paranóia, solidão, intimismo, amor, universalismo, fragilidade, aconchego; tudo isto é despoletado durante a audição de “Medúlla”, que termina com o registo de voz desta musa num tom magistralmente épico em “Triumph of a heart”.
Não é um álbum de audição fácil, visto fragmentar por completo o que se entende por “pop”, no entanto com a audição continua as dúvidas dissipam-se e toda a imensidão humana que o disco encerra acaba indubitavelmente por cativar. (8/10)



Acontecimentos_2004 - Música


"Likes…" de Dani Siciliano

A estreia a solo de Dani Siciliano, a voz dos álbuns de Herbert, fez-se de forma elegante. Um álbum impregnado de sensualidade que nos leva a vibrar com cada canção, face à doçura que esta voz encerra. Serve este disco para Siciliano consagrar uma declaração de amor a Herbert (seu marido), daí se poderem observar momentos legítimos de ternura, fortemente arrebatadores em alguns dos casos.
O método de fabrico é idêntico ao de Herbert, não fosse ele o responsável pelas produções adicionais; no entanto quem assume o comando é Siciliano conseguindo desse modo tornar tudo acentuadamente mais sensível.
Trata-se de um disco urbano, inspirado, bem produzido; com electrónicas trabalhadas ao pormenor, às quais são adicionados elementos acústicos, tendo tudo fortes influências provenientes do "jazz"; criando-se no final um todo onde se respira livremente.
“Likes…” é um grande acontecimento editorial; para ser apreciado confortavelmente num sofá enquanto nos deleitamos com a nossa bebida favorita. (9,5/10)


Acontecimentos_2004 - Música


“Uh Huh Her” de PJ Harvey

Quando mulheres de aparência inquebrável se mostram vulneráveis… nós quebramos. É o que acontece com este álbum de PJ Harvey. Habituados que estamos a receber de PJ o que de melhor tem para oferecer, “Uh Huh Her” não veio quebrar a regra e encerra em si um grupo de belas canções onde são retratados desgostos, amores, mágoas, entregas… Tudo apresentado com grande intensidade, através de uns lábios soberbos, pois PJ sabe daquilo que fala e incorpora-o magnificamente; não é por isso de estranhar que se tenha tornado numa das maiores referências do rock da actualidade.
PJ escreveu o álbum em casa da avó na Inglaterra natal; e foi tocado e produzido por ela, tendo apenas a ajuda de Rob Ellis na bateria e precursão, e de Head nas gravações e misturas. O resultado é um misto entre o rock e o etéreo.
Após escutarmos o disco, embora possamos não encontrar grandes surpresas e novidades, o saber fazer de PJ maravilha, contagia; pois impregna uma coerência avassaladora em tudo aquilo que concebe, e onde ainda consegue guardar todo o calor de uma alma reconfortante e aconchegante.
Ficamos com o coração partido, hipnotizados e queremos continuar assim, por isso ouvimo-lo mais uma vez. (9/10)


Acontecimentos_2004 - Música


Back to mine de Lamb: The Voodoo Sessions

Aqui está uma boa oportunidade para nos redimimos com os Lamb. Se nos seus últimos dois trabalhos de originais não conseguiram alcançar o brilhantismo dos anteriores com esta compilação conseguem-no, dando a conhecer um belíssimo conjunto de canções que servem de inspiração para o seu projecto.
Andy Barlow, a parte da dupla responsável pela faceta instrumental, demonstra num total de 12 canções o seu bom gosto, onde estão presentes o hipnotismo, mistério, sedução e eclectismo nas mesmas doses. Estão lá Martina Topley-Bird, Dr. John, Nina Simone, Nitin Sawney (no seu melhor), Chris Thomas King e Nabintou Diakite, entre outros, a prová-lo.
Não se trata de uma colectânea com base na música electrónica como estamos habituados a obter da série Back to mine, mas sim de um grupo coeso de canções que têm em comum a intenção de elevar a música a um grau de espiritualidade único onde a tensão se disfarça de descontracção. Recorre-se aos estilos musicais mais inesperados para obter esse espírito que surpreendentemente formam um conjunto fluido onde tudo parece ter saído da mesma fornalha. Dá-se assim a conhecer uma das melhores colectâneas da série Back to Mine, senão mesmo a melhor. (9/10)


Acontecimentos_2004 - Música


"Enter the spektrum" de Spektrum

Um álbum que revela um novo olhar sobre as pistas de dança. Com uma atitude claramente “punk”, sendo desta forma maioritariamente impulsivo não deixa contudo de ser conjuntamente cerebral: constituído por canções em grande parte dançáveis este álbum não foi somente produzido para as pistas, pois aí não serão perceptíveis pormenores que o constituem nem sequer serão percebidas paranóias que algumas canções encerram. No entanto, como qualquer álbum de dança que se preze, tem as suas preciosas pérolas viradas inequivocamente para as pistas, como é o caso de “Freefall”, candidata à melhor canção de dança do ano.
Ninguém fica indiferente à voz de Lola Olafisoye, versátil, agreste e rude, trespassa o álbum de início ao fim como que tendo por objectivo cumprir um ritual onde irá exorcizar algum espírito que a assombra, conferindo uma coerência inequívoca à obra. Sóbrios, saudáveis, e matematicamente escrupulosos os músicos; Teia Williams, Isaac Tucker e Gabriel Olegavich são excepcionais, construindo melodias equilibradas, com base num som sólido e consciente, criando um ambiente enigmático para a voz naturalmente se encaixar, e que simultaneamente contrasta com os excessos e devaneios vocais.
O todo origina um “funk” contagiante para ser consumido excessivamente. (8,5/10)


terça-feira, dezembro 21, 2004

Acontecimentos_2004 - Música


"Still lookin’ good to me" de The band of Blacky Ranchette

Um dos acontecimentos do ano passa pelo “alternative country”. Howe Gelb decidiu utilizar esta linguagem para dar a conhecer mais uma obra-prima; que passou desapercebida, como quase todo o vasto legado que este senhor está a deixar.
“Still lookin’ good to me” conta com um excepcional leque de convidados. Na parte instrumental podemos encontrar John Convertino e Joe Burns (Calexico); e nas vozes Neko Case, Chan Marshall (Cat Power) e Kurt Wagner (Lambchop). Todas as prestações encaixam harmoniosamente, como que estritamente necessárias e não pudessem ser substituídas.
Um outro mérito que podemos encontrar nesta obra é a qualidade da gravação, visto ser constituída por temas gravados em estúdio, intercalados por temas gravados ao vivo e nos sítios mais inesperados - num aeroporto, por exemplo.
É um álbum bem disposto, luminoso, descontraído; onde se deixa transparecer a felicidade de se viver uma vida em pleno que permite alcançar um estado emocional equilibrado e cheio de satisfação, tendo no entanto a consciência das dificuldades encontradas e não pondo de lado a hipótese de outras se poderem encontrar. É esse o espírito que predomina ao longo do conjunto das 14 belíssimas canções; desde a abertura com Gelb a dominar com a voz as estridentes melodias, passando por “Getting made” que corre o risco de (inicialmente) eclipsar todo o álbum (assim como todas as canções “country” alguma vez feitas), pela descontracção de “The muss of paradise”, e acabando na vulnerabilidade de “Square”; “Still lookin’ good to me” é uma paragem obrigatória para qualquer apreciador da criatividade no mundo musical. (10/10)


segunda-feira, dezembro 20, 2004

Calvin & Hobbes

Arte que alcançou o 7º lugar


"A home at the end of the world" de Michael Mayer

Após a adaptação de “As Horas” de Michael Cunningham para o grande ecrã, chega agora a vez de “Uma casa no fim do mundo”, primeira romance do escritor.
Desta vez a realização ficou a cargo de Michael Mayer, que deu a Colin Farrell, Robin Wright Penn, Dallas Roberts e Sissy Spacek a oportunidade de encarnar o papel das personagens principais.
O filme, tal como o livro, retrata a relação de dois amigos que crescem juntos numa cidade do interior que, após uma separação, acabam por desenvolver em Nova Iorque um novo tipo de relação, na qual um novo factor é adicionado: a presença de um elemento feminino. Gera-se assim um triângulo amoroso que procura estabelecer um novo tipo de família.
O que melhor define o livro, no filme perde-se bastante. Para além de se pôr completamente de lado a caracterização de cada personagem através do olhar profundo das outras que a rodeiam; as relações, para além de não serem exploradas o suficiente, são expostas de forma mais suave na sua intensidade e tensão.
Colin Ferrell foi uma escolha arriscada, e de facto não concretizou o que seria exigido na interpretação de uma personagem como Bobby, baseando-se a maior parte do tempo em clichés, interpretados de forma excessiva, na procura da tentativa de deixar transparecer a sensibilidade desta personagem. No entanto Robin Wright Penn, Dallas Roberts e Sissy Spacek desempenham bem os seus papéis. Sissy Spacek retrata exemplarmente toda a sensibilidade que uma mãe pode adquirir, podendo observar-se isso em cada um dos seus gestos e atitudes. No entanto o grande destaque vai para Robin Wright Penn, que interpreta o papel de Clare, e que de facto, de forma precisa, expõe toda a vivacidade e fragilidade que esta personagem encerra.
Não se trata de uma obra-prima do cinema, porém é um bom filme de entretenimento.(6/10)

domingo, dezembro 19, 2004

Corpo


quinta-feira, dezembro 16, 2004



“Por vezes, temos dificuldades em nos situar num mundo onde a realidade é progressivamente manipulada e definida pela omnipresença de imagens comerciais. Imagens que se dimensionam em artefactos produzidos em série, num contexto saturado de solicitações, onde nada pode alcançar um estado capaz de exprimir a totalidade daquilo que nos cerca. O que surge como arte são tentativas sempre parciais de captação e interpretação do real em mudança. (…)
A cultura de massas funde-se na multidão de personagens. Seres amorfos manipulados como meios propagadores de consumo e peças obedientes da grande indústria do entretenimento. O mais interessante e o mais estranho em todas as personalidades construídas no vazio de conteúdos culturais é o facto de continuarem a deixar-se arrastar pelo enorme fascínio que supera em nitidez a realidade de onde partiram. A ideia de miragem na qual não existe distinção entre o conteúdo e o sucesso; o acontecimento da glorificação. As relações entre arte, músicos, instrumentos, géneros, tipos, discursos e o seu contexto exterior já foram estáveis. Actualmente são parcelas secundárias de uma conjuntura definida segundo uma óptica comercial. Relegados que estamos para as margens da cultura, os assuntos de estética, da ética, da autenticidade, da originalidade ou da criatividade já não nos asseguram nada.”

Ivo Martins in Op #14

terça-feira, dezembro 14, 2004

Narcisismo

domingo, dezembro 12, 2004

Intimidades_01/03 – Ficções



Olhava directamente nos olhos dele quando me fez a pergunta: - O que procuras? Sorri misteriosamente e olhei em redor; ao voltar a encontrar o seu olhar respondei-lhe: - Neste momento tenho alguém que me faz sentir vivo, neste momento não procuro. Apreciei a doce expressão que fez, aquele sorriso quase infantil impregnado de um charme requintado, estudiosamente adquirido, assentava-lhe na perfeição; tão bem como o conjunto negro que trazia vestido da “Armani Collezioni” no qual todos os detalhes e acabamentos pareciam ter sido feitos a pensar exclusivamente no corpo dele.
Quando entramos no quarto, no vigésimo andar do hotel, todo aquele branco imaculado tornou a incomodar-me; apenas o leve aroma a incenso de ópio no ar e, ao fundo, a parede oval de vidro, que deixava apreciar a imponência de uma cidade revestida por gigantescos ecrãs publicitários e “neons” de todas as cores, transmitiam conforto àquele espaço. Fiquei a apreciar a cidade por momentos… Oiço de forma musical se queria “Champagne”, viro-me na direcção da voz e vejo-o com dois copos numa das mão e uma garrafa de "Dom Pérignon" na outra: - Vintage de 1996, disse. Aceitei; serviu-nos, aproximei-me dele e antes de me dar um dos copos encostou o corpo dele no meu e delicadamente deu-me um beijo no pescoço, subiu até à orelha e por fim dirigiu-se à boca; senti a fragrância que emanava, sensual e ambígua, uma equilibrada combinação “mocca coffee” e lavanda.
- Vou buscar as romãs…

O que procuro?
Alguém carinhoso e sensível que não seja frágil; que tenha a capacidade de me fascinar e surpreender. Que seja romântico, sensual e cheio de charme. Que me dê atenção.
Que seja elegante; com gostos requintados, adequados a uma personalidade inteligente (que não seja trivial). Bonito fisicamente (não com uma beleza vulgar… que seja muito particular dele). Que me leve a viajar…

Sigur Rós art

sábado, dezembro 11, 2004

Excertos



“Olha bem e deliberadamente para todos os caminhos. Tenta-o tantas vezes quantas forem necessárias. Depois faz a ti mesmo a pergunta. (…) Será que este caminho tem coração? Todos os caminhos são o mesmo: nenhum leva a parte alguma. (…) No decurso da minha vida posso dizer que atravessei longos, longos caminhos e não cheguei a lugar nenhum. A questão posta (…) faz sentido. Será que este caminho tem coração? Se tem, o caminho é bom; se não tem, não presta. Nenhum dos caminhos leva a parte alguma; mas um tem coração, o outro não tem. Um proporciona uma viagem com alegria; na medida em que se o seguires, serás uno com ele. Outro levar-te-á a amaldiçoar a vida. Um faz de ti um homem forte; o outro, um homem fraco.”

Don Juan in “Os Ensinamentos de Don Juan” de Carlos Castañeda.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Leituras entre lençóis


"O Retrato de Dorian Gray" de Oscar Wilde

Nascido em Dublin a 16 de Outubro de 1854, Oscar (Fingall O’Flahertie Wills) Wilde, concluiu a sua educação de forma brilhante em Oxford. Dramaturgo, poeta, ensaísta e novelista Irlandês; a sua carreira foi assombrosa, tornando-se numa figura de topo do movimento “decadentista” em Inglaterra; sendo no entanto interrompida pela condenação a dois anos de prisão (com trabalhos forçados incluídos) devido a práticas homossexuais que levou a cabo com Lorde Alfred Douglas. Cumprida a pena, decidiu exilar-se e morreu em Paris a 30 de Novembro de 1900.
Práticamente todos os livros que escreveu tornaram-se grandes clássicos. “O Retrato de Dorian Gray”, seu único romance, desde o seu lançamento, numa versão mais curta, no Lippincott’s Magazine (1890), provocou reacções simultâneas de ira e admiração entusiástica. Como desafio, resolveu publicar Dorian Gray em livro, acrescentando-lhe capítulos novos, assim como um prefácio onde se pode ler: “Basil Hallward é aquilo que eu penso de mim; Lord Henry, o que o mundo pensa de mim; Dorian é o que eu gostaria de ser noutra época, talvez.” A primeira edição saiu em Abril de 1891.
O romance conta a insólita história de um jovem londrino cuja beleza o arruinou. Através de uma metáfora subtil dos vícios ocultos, sob a face da beleza narrativa, mostra-se a impassível elegância do aristocrata Dorian Gray que parece nunca envelhecer, enquanto que no silêncio de um quarto de sua casa um retrato seu, pintado a óleo, se vai cobrindo com as corrupções e equimoses de libertinagens e crimes por ele praticados.
Provocou acesos debates ao ser publicado, que se prolongam até aos dias de hoje, por retratar de forma dramática a degradação do homem; no entanto uma coisa é indiscutível: o livro resistiu à acção do tempo tornando-se numa autêntica homenagem à emoção estética e à grandiosidade dramática. (10/10)


ilustração de Stephen Alcorn

quinta-feira, dezembro 09, 2004

FRASES... DITAS por alguém... SOLTAS para o mundo...


"Moon and Tree in love" by Neda Shooshtariha

“Sabes, o amor não mata.”
in “La pianiste” by Michael Haneke

“Olhar a vida de frente, olhá-la sempre de frente, e saber como ela é. Finalmente… sabê-lo. E amá-la pelo que ela é, e depois… Pô-la de lado.”
in “The hours” by Stephen Daldry

“A vida é como a espuma, por isso entrega-te como o mar.”
in “Y tu mama también” by Alfonso Cuarón

Bart "Gray" Simpson

quarta-feira, dezembro 08, 2004

1 amigo em 150 palavras – (II)

“Neste momento só existe uma pessoa por quem sou capaz de me apaixonar”. Instalou-se um silêncio desconfortável; não estava interessado em saber quem era.
Precisávamos que acontece-se algo. Fizemos por isso. Decidimos passar um fim-de-semana juntos, longe de tudo. Divertimo-nos; acabamos uma noite separados, e as outras juntos; e foi numa delas que a nossa amizade surgiu verdadeiramente. Fomos desenfreadamente sinceros um com o outro; é espantoso a desmesurada honestidade que atingimos deixando a nu todos os nossos sentimentos; claro que o excesso de álcool permitiu isso. Acabamos a conversa a lamentar o quanto dois apaixonados por viver não conseguem encontrar um rumo.
Passaste a ligar-me todos os dias, preocupas-te comigo, mas no fundo queres a garantia que continuo interessado na tua amizade. És tão frágil.
Nessa noite tudo mudou, e admiro a coragem que tiveste. Nessa noite obtive a resposta… a pessoa por quem te podias apaixonar era eu.

terça-feira, dezembro 07, 2004

1 amigo em 150 palavras – (I)

Lembro-me daquele momento, não da data ou da hora, apenas de ter sido numa tarde quente. Lembro-me de te virares para mim e falares que tinhas algo importante a dizer-me… Disseste-o logo de seguida; quase que timidamente. Fiquei contente quando o fizeste, genuinamente contente (não porque achava que deveria ficar). Fui a primeira pessoa a quem o disseste, talvez por saberes que iria entender perfeitamente essa decisão; pois a partir do momento em que nos começamos a conhecer a empatia que surgiu deu-te essa garantia. Empatia que assegura que nunca nos vamos chatear, que ofereceu um lugar de refúgio para me ajudar a ultrapassar maus momentos, que permitiu a criação de um respeito e de uma admiração mútua, que faz com que ambos nos percebamos harmoniosamente.
Estavas bonita nessa tarde, mais que o habitual; a tua presença irradiou a cozinha quando deixaste escapar entre os lábios; deliciosamente encarnados: Vou-me casar.

Calvin & Hobbes

Ser Feliz... (8)



Olho para um quarto
Que toda a minha intimidade preserva…
Que a todo um fogo,
De carnes assistiu…

Vejo-me no meio
De algo transcendente
Que não controlo.
De algo que fazer bem
Faz e não faz.

Possivelmente
Por estas quatro paredes
Guardarem o segredo
Da morte sangrenta
Que te provoquei.

Não sei…

Vivo menos atormentado,
Feliz; ainda não.
Mas já consigo respirar.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Leituras entre lençóis


"Orlando" de Virgínia Woolf

Escritora e crítica literária britânica, Virginia Woolf é a principal representante feminina do modernismo na língua inglesa.
“Orlando”, lançado em 1928, em que o foco da narrativa tem uma característica impressionista poética, na qual se realça a exposição de uma série de estados psicológicos, em detrimento da descrição evolutiva dos acontecimentos, ajuda a consolidar a transformação do romance moderno.
Inspirado em Vita Sackville-West, poetiza e romancista inglesa, herdeira de uma das maiores famílias de Inglaterra, com quem Virginia Woolf teve uma relação lesbiana; traça-se a fantástica história de um protagonista que nos é apresentado como homem e que durante a narrativa é metamorfoseado em mulher.
O que interessa a Virginia Woolf “no personagem é a inumerável variedade de combinações possíveis que permitem a ausência de obrigações humanas habituais. (…) Tesoureiro ou embaixador, perseguidor de raparigas ou musa de espíritos apaixonados pela beleza, melancólico ou exaltado, trocando as calças pelas saias ou refugiando-se na sua tebaida de campo para escrever o seu poema, a sua natureza dupla presenteia-o não com duas nem com dez, mas com cem vidas diferentes.” (10/10)

com excerto de Monique Nathan, em Virginia Woolf

DVD_M


Cinematic Orchestra - Man with a movie camera

A convite da organização de “Porto 2001” os Cinematic Orchestra criaram uma banda sonora para o filme “Man with a movie camera”, realizado por Dziga Vertov em 1929. Nessa época, em que a revolução soviética se debatia com o lugar da arte numa nova realidade, Vertov encontrou problemas na sombra do moralismo estalinista dos anos 30, que reconhecia em seu trabalho um empenhado desejo em aplicar maior importância à estética face ao empenhamento ideológico. Nota-se isso desde o início do filme, com a vontade de Vertov em encontrar uma “linguagem absoluta do cinema”, independente das malhas narrativas da literatura e do teatro.
Com este filme, Dziga Vertov criou um hino ao proletário soviético e à sua posição no mundo. Através de uma revolucionária técnica de montagem é dado a conhecer um mundo onde máquinas, fábricas, pessoas e meios de transportes são peças da revolução da União Soviética, encarada aqui como sendo um magistral aparelho mecânico.
Pediu-se desta forma aos Cinematic Orchestra para orquestrarem uma Revolução. Conseguiram-no. Durante o período de criação da música para este filme lançaram-se pistas para “Everyday”, que encontra aqui, orquestralmente, as suas composições sagradas em toda a sua extensão, que durante a visualização do filme comparecem harmoniosamente com as imagens.
Para além da excepcional embalagem em que vem este DVD, pode-se ainda encontrar alguns extras apetecíveis, como o vídeo em super-8 de “All that you give”, um pequeno documentário onde se fala da feitura das orquestração, assim como actuações ao vivo dos Cinematic Orchestra. (9/10)


filme de Dziga Vertov

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Calvin & Hobbes

I'm from the moon



They say without know me:

I can vibe with the steady rhythms of the Moon.
I'm in touch with my emotions and intuition.
I possess a great, unmatched imagination - and an infinite memory.
Ultra-sensitive, I feel at home anywhere (or with anyone).
A total healer, I light the way in the dark for many.

And you?