domingo, julho 31, 2005

Despedidas


"The sky on the twilight of Philippine's suicide" by Nan Goldin.

A partir de hoje o “Blue Red and Dark” tem um futuro incerto. Eu, para além de estar de malas e bagagens feitas para ir de férias, pouco tempo depois de voltar terei como destino Leeds, em Inglaterra, onde irei tirar um curso de cinema. Assim, não posso garantir, pelo menos para já, que terei a mesma disponibilidade e os recursos para continuar a manter este blog. No entanto, mais tarde ou mais cedo, penso voltar a utilizar este espaço que tanto me é querido. A todos aqueles que por aqui passaram deixo desde já o meu reconhecimento e os devidos agradecimentos. Espero reencontrar-vos em breve. Até lá :)

Bj**

terça-feira, julho 26, 2005

Video_03


"Twist" by Goldfrapp


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Arte que alcançou o 7º lugar


La Pianiste” by Michael Haneke

Michael Haneke é perito em realizar filmes onde se exploram condições limite da dimensão humana. Em “La Pianiste” recorre-se à união da abjecção com o grandíloquo para expor, de modo perturbante, algumas vivências extremas que o ser humano é capaz de experimentar. Mas não só; também se anda em redor do ganhar a consciência, e o desejo, para que essas vivências se desenvolvam, revelando assim o que de oculto se pode encontrar numa personalidade. São esses os pressupostos que o realizador aborda, com notável precisão, e com os quais se debruça sobre as duas personagens centrais do filme.
Erika Kohut (Isabelle Huppert) é professora de piano no Conservatório de Viena. Aos 40 anos ainda vive com a sua opressiva mãe (Annie Girardot), que a vigia constantemente, e de quem apenas consegue escapar em incursões regulares que faz a salas de cinema pornográfico e “peepshows”. A sua sexualidade só é vivida através de actos de “voyeurismo” e de auto-mutilação. No entanto esse mundo está prestes a ser abalado por Walter Klemmer (Benoît Magimel), um jovem que decide seduzi-la. A relação por eles desenvolvida revela-se um autêntico exercício de sanidade, onde encontramos uma mulher que não quer perder o controlo, mas que já o perdeu há muito tempo; e um homem que está prestes a perde-lo.
Esta desarmante viagem é eximiamente conduzida por Huppert e Magimel, que com grande dedicação se entregam às suas personagens. De salientar ainda o empenho do realizador na banda sonora, não só pela qualidade excepcional que tem - ouvem-se por aqui grandes compositores, tais como Schubert e Bach - mas também pela forma apaixonada de a apresentar.
E assim Michael Haneke levanta mais uma vez questões sobre o que é representável ou não, assim como sobre a utilidade que se pode dar ao cinema... Entretanto vai dando as respostas. (8,5/10)



segunda-feira, julho 25, 2005

Pooch Café

Leituras entre lençóis


“Semente do Diabo” by Ira Levin

O Diabo não deixa de ser uma figura inspiradora para muitos escritores, escritores esses que, por muito diferente que seja o aspecto que lhe conferem, expõem-no perpetuamente como a máxima do horror em si. Se em a “Semente do Diabo” a sua ligeira presença não tem como intuito primordial explorar a imaginação do leitor quanto à sua feição, tem no entanto a alento necessário para que surja como o responsável pelo desenlace de uma série de acontecimentos que servem para ajudar a cumprir os seus propósitos. Ira Levin pega nessa ideia e desenrola-a num ambiente físico insuspeito, que no entanto devido às suas características acaba por se relevar eficaz.
A história passa-se num velho edifício de Manhattan, o qual devido à sua arquitectura clássica transmite um ambiente de grande emotividade, existem magníficas gárgulas a espreitar das fachadas, o elevador está revestido com painéis de carvalho e decorado com latão, os corredores são longos e escuros... Rosemary e Guy, o seu marido, acabam de alugar um apartamento nesse edifício e planeiam nele um futuro ambicioso. Entretanto vão conhecendo os seus vizinhos e vão descobrindo que ali já se desenrolaram acontecimentos inusuais. No entanto isso não demove o casal do seu intuito de viver no local e de ali conceberem o seu primeiro filho. E é nisso que o casal se concentra, após um súbito interesse de Guy. A gravidez não demora muito a acontecer e quando Minnie and Roman Castevet, os vizinhos mais íntimos, recebem a noticia revelam um grande entusiasmo e um desmesurado interesse para que tudo corra bem, prestando toda a assistência possível. Minnie tem todos os dias o cuidado de dar a Rosemary uma estranha bebida que deve ser tomada incondicionalmente.
O que de facto se passa, ou quais são os verdadeiros interesses em relação ao bebé é algo a descobrir nesta obra monumental sobre o mal e o terror. O certo é que o desvendar dos motivos dos acontecimentos estranhos que ocorrem acabam por declarar um único responsável: o Diabo. É uma obra extremamente absorvente que nos revela um final surpreendente, encontrando-se bem construída quer a nível de descrições, diálogos e de personagens. Escrito em 1967, foi um dos primeiros livros do género de terror a tornar-se bem sucedido a nível de vendas. (8/10)

domingo, julho 24, 2005

Video_02


"Doo Uap Doo Uap Doo Uap" by Gabin


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Década de 90 revisitada


"Pre-Millennium Tension" by Tricky

A importância que Tricky teve no universo da música da passada década de 90 é incontornável. Esteve presente na feitura de um número considerável de obras superiores de então, de gente como os Massive Attack ou Bjork, e ainda veio a trabalhar com PJ Harvey. No entanto a sua criatividade artística afirmou-se aquando o lançamento de "Maxinquaye", o seu primeiro álbum a solo, uma obra capaz de eclipsar toda uma carreira, a qual segue como sendo a maior referência do músico (Martina Topley Bird e Allison Goldfrapp são nomes familiares a esse registo).
A criatividade deste senhor não se esgotou por aí, logo de seguida produziu outros discos de igual qualidade, que no entanto não atingiriam a mesma mediatização devido aos territórios explorados, gradualmente mais densos, tenebrosos e claustrofóbicos. Essa tendência está desde logo presente em "Nearly God", que sucedeu o disco de estreia e antecede "Pre-Millennium Tension", talvez o seu disco menos imediato.
"Pre-Millennium Tension" ganha o seu equilíbrio na confusão. Exibe um verdadeiro cataclismo sónico; a quantidade de soluções encontradas para os arranjos é impressionante, qualquer instrumento é aqui posto ao serviço da criatividade, usa-se por ser necessário, da forma que melhor se adequa (muitas das vezes pouco convencional) aos ambientes que se pretendem criar. Não se encontram aqui arranjos lineares, nem simples. Tudo se sobrepõe em camadas, compostas por pormenores a serem descobertos (e redescobertos) em todas as audições. E depois surgem as vozes. As vozes quentes e sensuais, trágicas e paranóicas, agressivas e demoníacas; maioritariamente sussurradas, que de forma precisa se expõem e desvendam através das letras parte daquilo que este universo encerra (a presença Martina Topley Bird é uma vez mais incontornável). Ao diluírem-se todos esses elementos o que daí descende é uma obra rica em novas melodias e soluções que de outra forma, ou noutro contexto, não poderiam originar a coerência que o registo acaba por encerrar.
É certo que posteriormente a carreira de Tricky viria a oscilar, os álbuns desta década não têm a qualidade da anterior, e parece dominar a pressão para que o músico edite outro "Maxinquaye". Até agora não o tentou fazer, por muitas manobras de marketing que as editoras multinacionais (contra as quais entretanto se revoltou) tenham aplicado aos últimos registos nesse sentido. Porém ninguém lhe tira o estatuto e a importância alcançada, assim como o reconhecimento por parte da crítica a nível mundial, das suas obras dos anos 90. Exilado de toda a produção musical da altura a sua música tornou-se em si um género. (10/10)

Earl & Mooch

sábado, julho 23, 2005

Anamnese


"Manifesto sobre um presente diminuto" de Edgar Martins.




"#10, Video Still" de Daniel Barroca.


Da série "On my body" de Agostinho Gonçalves.


Da série "Cá na terra" de Valter Vinagre.


Da série "Câmara de gelo" de Adriana Molder.

sexta-feira, julho 15, 2005

Video_01


"Anything" by Martina Topley Bird


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segunda-feira, julho 11, 2005

Calvin & Hobbes

domingo, julho 10, 2005

Arte que alcançou o 7º lugar


Tarnation” by Jonathan Caouette.

Jonathan Caouette decidiu pegar em 160 horas de “home movies” (filmados por ele ao longo de 20 anos), “shows” de TV, vídeos e canções, e fazer uma versão da sua vida condensada em 2 horas, numa manifesta intenção de catarse pessoal.
Assim o filme(/documentário) de Caouette ora oscila entre o documentário, no uso dos registos factuais da sua vida (e daqueles que a rodeiam, nomeadamente aqueles com quem estabelece laços familiares e afectivos); e a ficção, na reconstrução e manipulação feita desses factos enquanto realizador de “Tarnation”. Ora bem, é justamente nessa dualidade onde reside o melhor e o pior deste filme(/documentário).
É óbvio que se usam vários recursos cinematográficos e artísticos para o resultado final. Para além de exibir uma narrativa romanceada da sua vida pessoal (que tanto podia ter sido a apresentada como outra qualquer), usam-se outras técnicas, nomeadamente o uso de vários efeitos de montagem, o de uma excelente banda sonora e da apresentação de algumas encenações (feitas pelo próprio Caouette enquanto actor). Tudo artifícios que podem desviar a atenção daquilo que é realmente exposto.
E o que realmente é exposto? Expõe-se uma narrativa elaborada maioritariamente a partir de uma série de sequências que são constituídas por registos reais da vida de pessoas (é a sua existência no mundo real que se apresenta). Abrem-se as portas da casa de uma família constituída por elementos que têm problemas tanto físicos como psicológicos (que são reais, não ficcionados - insisto), rica sobretudo em neuroses. A exploração sentimental feita ao espectador passa acima de tudo por aqui, pela óbvia intenção de o indignar com factos autênticos. Mas isso pode agora levantar uma série de questões éticas, o espectador não pode assim regressar da experiência (ambígua) que acaba de experimentar conformado, não pode regressar ao mundo real de forma tranquila, porque aquilo a que assistiu afinal de contas não é ficção.
“Tarnation”, se bem que de forma não intencional, torna-se numa das possíveis previsões anunciadas pelo efeito "Big Brother". Pode-se agora reflectir sobre este caminho que o cinema poderá seguir, e se aquilo que o público pretende ver no grande ecrã é a exploração da vida real (em vez da exploração da inspiração feita a partir dela). (?/10)



sábado, julho 09, 2005

A morte do poeta


Unknown author

Jazia. A sua face ao alto estava
pálida e de recusa nas travesseira oblíquas,
desde que o mundo e este saber do mundo
se arrancaram dos seus sentidos,
e caíram de novo no ano indiferente.

Os que o viram na vida não sabiam
como ele era um só com tudo isto,
pois isto: estas baixas, estes prados
e estas águas eram a sua face.

Oh a sua face era toda esta amplidão
que ainda agora o quer e o corteja;
e a sua máscara, que agora morre ansiosa,
é tenra e aberta como o interior
dum fruto que apodrece ao ar.

by Rainer Maria Rilke

sexta-feira, julho 08, 2005

Leituras entre lençóis


“A laranja mecânica” by Anthony Burgess
tradução de José Luandino Vieira

“O que é que define um Homem bom? É bom o homem que escolhe o bem ou aquele a quem o bem é imposto? Não será o homem que escolhe o mal de alguma forma melhor do que aquele que faz o bem porque não tem escolha?”

“A laranja mecânica” retrata um universo onde a violência se transformou num hábito. Os adolescentes, que crescem rodeados por essa violência, juntam-se agora em grupo para aterrorizar, de todas as formas possíveis, uma Londres situada algures no futuro. Alex, o narrador do romance, é um desses jovens que um dia é traído pelos do seu grupo e que fazem com que ele seja preso. Na prisão Alex experimenta um novo tipo de violência; uma violência legal, institucionalizada, que o usa como um objecto num tratamento que o condiciona a recusar qualquer tipo de violência.
Publicado em 1962, este livro foi escrito em “nadescente”, a língua que Burgess inventou para as suas personagens, e embora seja uma ideia notável, as várias dezenas de vocábulos gerados (que até podem resultar bem no original visto que por vezes são criados através do alargamento semântico de termos de gírias e calão da língua inglesa) tornam-se um pouco incómodos para o fluir da leitura na tradução portuguesa, no entanto muitas das vezes fazem com que seja suficientemente divertida:

“«E agora?»
Estava eu, eu quer dizer Alex, e os meu três drucos, quer dizer Pete, Georgie e o Tapado, totalmente tapado este Tapado, sentados no milquebar Korova, puxando pela rassudoca sem saber que fazer da noite, uma sacana de noite negra de Inverno, muito fria mas seca. O milquebar Korova era um desses mestos onde se tomava leite-e-etc, e talvez se tenham esquecido, irmãos, de como eram esses mestos, hoje em dia as coisas mudam muito escorre, toda a gente tem pressa em esquecer, já nem sequer se lêem os jornais.”


Adaptado mais tarde para o cinema pelo realizador Stanley Kubrick, “A laranja mecânica” continua a ser um livro polémico e inteligente sobre o livre juízo:

“Quais os desígnios de Deus? Quererá ele o Bem, ou a escolha do Bem? Um homem que escolhe o Mal, será por acaso ou de certo modo, melhor do que um homem a quem impõem o Bem?” (7/10)

Glossário: druco – amigo, escorre - rápido, mesto - sítio, rassudoca – imaginação.

segunda-feira, julho 04, 2005

Pooch Café

Década de 90 revisitada


"Lux Vivens" by Jocelyn Montgomery & David Lynch

Hildegard von Bingen (1098-1179) foi uma das poucas mulheres que durante as trevas intelectuais da Idade Média se destacou perante a instituição patriarcal da Igreja Católica Romana. Para além de ter sido uma extraordinária pensadora, filósofa e teóloga, era ainda escritora, médica e botânica; que através de sermões públicos desafiava os poderosos do regimento machista da época. Supõe-se que Bingen tenha sido a primeira cientista após a destruição definitiva de Alexandria. Conta-se ainda nas suas virtudes o dom da composição; daí que não seja de admirar que as suas músicas tenham sido recentemente recuperadas e gravadas.
Jocelyn Montgomery e David Lynch em 1998 decidiram fazer uma gravação de parte dessas composições deixando vincado nela o cunho pessoal de ambos. Ela, violinista e cantora, e ele, aqui responsável pelas misturas, arranjos e composições adicionais, tiveram no entanto o cuidado de deixar intacto o espaço que os arranjos originais necessitam. A mais valia acrescentada aos originais foi a de tê-los enquadrado no ambiente em que eles poderiam ter sido criados, ou então que podem evocar. Durante toda a audição do disco deparamo-nos em segundo plano com sublimes pormenores tais como o som do vento, de sinos ou de guerras, que levam o ouvinte a envolver-se ainda mais intensamente com a obra.
“Lux Vivens” faz-nos viajar no tempo, faz-nos sentir envolvidos por uma época passada tal como imaginamos que ela teria sido. Criou-se assim uma obra que funciona como um magnífico retiro espiritual. (8/10)

sexta-feira, julho 01, 2005

Ooh la la




Ooh la la

The new single from Goldfrapp