segunda-feira, dezembro 26, 2005

Impressionou (09) / the_end

“Tender Buttons” by Broadcast

Dado o seu empenho em explorar a estética dos anos 60, com o propósito de a tornar contemporânea; os Ingleses Broadcast têm, muitas das vezes, visto as suas obras comparadas com as dos seus conterrâneos Stereolab. Essa comparação, para além de simplista, é indubitavelmente redutora; talvez por isso o talento do grupo seja muitas das vezes ignorado, o que dificulta o reconhecimento de um legado que até à data não conheceu um mau momento.
Depois de editarem uma compilação - “Work and Non Work” (1997) –, dois álbuns - “The Noise Made By People” (2000) e “HA HA Sound” (2003) –, uma série de Ep's e “singles” (com magníficos “b sides”); os Broadcast dão a conhecer “Tender Buttons”, que mostra uma vez mais um grupo em plena forma, independentemente do facto de agora se encontrar reduzido a dois elementos.
A estética dos anos 60 continua presente, no entanto, em “Tender Buttons”, não é vital, contrariamente aos seus antecessores. O que também não vai de encontro ao que o grupo produziu até à data são as estruturas instrumentais, que agora se apresentam menos complexas (porém continuam embutidas de grande originalidade e de diversidade sonora), o que permite facilmente ao ouvinte tornar-se confidente das belas melodias vocais de Trish Keenan. E o grau de intimidade pode ir ainda mais longe quando se presta atenção às letras que abrangem uma série de temas muito pessoais.
Com este álbum os Broadcast vão de encontro ao essencial da sua música, não deixando que a sua noção estética se imponha, deixam antes que ela se revele. (9/10)

domingo, dezembro 25, 2005

das festas...

...ou a vontade de empacotar todos os moribundos institucionais que ainda respiram, para não mais os desembrulhar:

« a arte transformou-se, claramente, numa forma de pensamento. quem quiser diversão, que vá à feira popular; quem quiser passar um bom bocado, que ligue aos amigos; quem quiser esquecer os problemas lá fora, que consulte um psiquiatra. »

in "Dogma 2005", 16.11.2005

Rogério Nuno Costa deseja a todos os artistas portugueses um ano de 2006 cheio de intervenções revolucionárias à la nouveau siècle, manifestações apocalípticas em frente às portas dos competentes e muitas, muitas cartas de demissão.

War & Hate!

Rogério Nuno Costa

(Não resisti em publicar este e-mail de boas festas que recebi do Rogério Nuno Costa. Deixo ainda o convite para visitarem o seu blog.)

sábado, dezembro 24, 2005

FELIZ NATAL ;)

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Impressionou (08)

"Explode" by AGF/Delay

“Explode” pode muito bem ser um diário urbano contemporâneo. AGF/Delay propõem um álbum humano, recheado de ritmos hipnóticos trespassados por inspirada poesia urbana, que resulta numa tocante obra de “spoken word”.
Induzida pelo estado actual da sociedade, como que querendo alertar para um certo conformismo instaurado no seu seio; AGF murmura histórias diversas, sendo a faixa “Explode baby” - que retrata o trágico acontecimento de uma mulher desesperada que se faz explodir - capaz de demonstrar o alcance que as suas letras conseguem atingir.
Delay deixa pulsar ritmos depurados, simples (sem serem simplistas), intensos; que sobrepõem melodias subtis e envolventes, que se descobrem e apreciam em cada nova audição que se faz de uma faixa.
É certo que a música electrónica actualmente não tem a sua reputação no auge, porém continuam-se a produzir obras notáveis no seu domínio, sendo “Explode” um bom exemplo disso. (9/10)

terça-feira, dezembro 13, 2005

Reedições (02)

"Horses/Horses - Legacy Edition" by Patti Smith

Existem determinados álbuns que são incontornáveis na história da música, que conseguem alcançar um estatuto tão grande (ou maior) que o do próprio criador, sendo a sua restante obra, independentemente da qualidade, por vezes descurada. No caso de “Horses” (1975) de Patti Smith (também poeta e activista) pode ser questionável se este é ou não o seu melhor álbum mas é certamente aquele que reúne maior consenso em toda a crítica musical mundial que se preze - que sempre o apresentará como uma das peças essenciais da música popular em qualquer lista que tente reunir os melhores álbuns de sempre. Certamente que isso não será por acaso: Patti Smith chamou a atenção para si e para o seu disco de estreia por ter sido a primeira mulher a infiltrar-se e a impor-se no universo Punk, adoptando uma postura masculina, rude, que não encaixava em nenhum modelo feminino da altura – a capa do álbum, uma fotografia de Robert Mapplethorpe, que viria a tornar-se tão popular quanto o álbum, é bem representativa disso.
Falar do álbum em si numa altura como esta pode tornar-se numa tarefa inútil, é praticamente garantido que é um dos que mais arrecadou críticas favoráveis e entusiastas em seu redor, as quais são justificáveis pela sua audição. No entanto a presente reedição vai mais além, oferece uma dose dupla de “Horses” - o primeiro disco contém o álbum original, o segundo tem uma versão ao vivo do primeiro. E é justamente o segundo que vem adicionar um carácter mais intimista às canções de estúdio, e defende novamente o porque de tanto entusiasmo em torno da obra: um dos maiores desafios de qualquer músico é o seu desempenho em concerto, o de apresentar ao vivo aquilo que criou; pois será aí que a legitimidade do artista atinge o seu auge se ele for capaz de se expressar com intensidade igual ou superior àquela que se espera dele. Se isso suceder então estamos perante uma experiência inesquecível... e é justamente isso que acontece aqui.
Caso ainda não se tenha, aqui está uma excelente oportunidade para deitar as mãos a “Horses”; se já se tiver pondere-se então substitui-lo, pois valerá a pena. (10/10)

domingo, dezembro 11, 2005

Impressionou (07)

"Uumen" by Kimmo Pohjonen & Eric Echampard

Tal como já no tem vindo a habituar Kimmo Pohjonen dá a conhecer mais um excelente trabalho, que sucede as obras-primas “Kalmuk” (2000) e “Kluster” (2003), e antecede o interessante “8 Armed Monkey” - também lançado em 2005. Em “Uumen” faz-se acompanhar por Eric Echampard, um baterista jazz, que, com o seu talento, usa a bateria para confrontar e desafiar o acordeão deste vanguardista finlandês.
Quando se termina a audição de do disco, que convém que seja feita com o volume no máximo, é necessário recuperar o fôlego; não é propriamente fácil assimilar de uma só vez a beleza do universo que a obra encerra no seu todo. Assiste-se a uma autêntica luta monumental de gigantes durante 50 minutos; onde se ouvem apenas um acordeão, uma bateria e uma voz a emitir sons estranhos. O acordeão capaz de desnortear o ouvinte, apresenta uma série de melodias peculiares, desencantadas dos cantos mais recônditos do cérebro do autor, sendo constantemente atiçado pelos ritmos esquizofrénicos da bateria.
A recriação continua a ser uma máxima de Kimmo Pohjonen. Com esta obra consegue uma vez mais surpreender, apresentando um resultado que nunca antes fora tão cru graças à intervenção de Eric Echampard. Continua aqui o gosto pela experimentação e a conseguir-se apresentar obras de qualidade superior, daquelas que só um génio é capaz de conceber – e que não deixam o ouvinte sair imune da sua audição. (9/10)

Les Inrockuptibles Hors Série

A prestigiada revista cultural francesa “Les Inrockuptibles” apresenta já neste mês a escolha feita dos 50 melhores discos de 2005 - que no entanto acaba por ser estendida até aos 100.
Trata-se de uma edição especial, inserida na “Hors Série” (uma série de edições muito cuidadas que esta publicação lança no mercado), que para além da referida lista traz ainda muitas outras, dedicadas a reedições, a singles ou a DVD’s; e ainda uma excelente entrevista com os The Arcade Fire assim como bastante informação útil sobre aquilo que foi o quase findo presente ano musical. Os dez melhores eleitos são os seguintes:

01 - “Funeral” by The Arcade Fire
02 – “Come On Feel The Illinoise” by Sufjan Stevens
03 – “Demon Days” by Gorillaz
04 – “You Could Have It So Much Better” by Franz Ferdinand
05 – “LCD Soundsystem” by LCD Soundsystem
06 – “Silent Alarm” by Bloc Party
07 – “I Am A Bird Now” by Antony And The Johnsons
08 – “Le Fil” by Camille
09 – “Late Registration” by Kanye West
10 – “Lullabies To Paralyze” by The Queens Of The Stone Age

Podemos ainda encontrar no Top 50:

20 – “Get Behind Me Satan” by The White Stripes
38 – “No Wow” by The Kills
39 – “Tender Buttons” by Broadcast
44 – “Axes” by Electrelane

Na secção das reedições encontramos em primeiro lugar os The Cure com “Seventeen Seconds", "Faith" e "Pornography" - Deluxe Editions -; e em oitavo Sonic Youth com “Goo - Deluxe Edition”.

Há muito mais para descobrir, incluindo um CD. A não perder.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Impressionou (06)

"Notes on Love" by Petra Jean Phillipson

Deu nas vistas com o irrepreensível tema “Sugarman”, extraído de “David Holmes Presents the Free Association”, em 2003. Petra Jean Phillipson, nesse entusiasmante disco assume um papel que embora seja vital não o é fulcral, uma vez estavamos perante um colectivo em pleno estado de graça, aonde não se deixou grande espaço para protagonismos individuais. Porém sentiu-se um pouco a frustração de não ouvir mais vezes a voz desta cantora. Assim, quando foi anunciado o lançamento do seu primeiro álbum a solo recebeu-se a notícia com grande entusiasmo e expectativa. E ele aí está, pronto para ser ouvido com a maior das dedicações.
“Notes on Love” contém um conjunto de características que permitem que cada uma das suas canções se acomode quase de imediato no cérebro do ouvinte. Essas características podem ser familiares pois são herdadas de uma série de grandes músicos que se revelaram ao mundo a partir cidade de Bristol na década de 90 (Portishead sobretudo), e Petra Jean deixa impregnado na obra o entendimento que fez delas; não no sentido de forjar fórmulas, mas sim, no sentido de ter entendido como pode expressar-se artisticamente. Será por isso que na audição do disco se estranhe encontrar esse grau de familiaridade justamente na linguagem que maioritariamente se utiliza: a Folk, revelando assim uma nova alternativa para produzir belas músicas dentro do género.
Outro aspecto de interesse são as letras que, impregnadas de sensibilidade poética, expõem sem receio nem pudor o que há para dizer, “I want to squeeze a man till he was dead / I want to float above the bed when I have sex / I want to taste the milk of human kindness”, pode ser um bom exemplo demonstrativo.
Finalmente temos a voz; a voz que agora se pode ouvir ao longo de onze canções (e ainda num curto devaneio escondido no final); uma voz que também evoca várias referencias mas que acaba por se revelar única, bela, confidente, sensual e acolhedora; que pode transformar-se num autêntico vício.
Aqui temos um precioso primeiro álbum, um diamante em bruto, onde Petra Jean sem comoção desvairada expõe-se, levando-nos a fazer uma viagem intimista onde a fragilidade e a força se diluem uma na outra. (9,5/10)

quarta-feira, dezembro 07, 2005

BLINKS - Música

Como é habitual nesta época, qualquer que seja o melómano, ele começará a reflectir sobre as suas listas das melhores obras que lhe apareceram à frente ao longo do ano; tal como acontece com os aficionados em cinema, literatura ou noutra arte. É o que está a acontecer aqui no “BLUE RED AND DARK”, será o que vai acontecer em muitos outros blogs dedicados aos temas referidos.
Para quem já conhece este blog sabe perfeitamente que não se restringe exclusivamente à música, no entanto ela vai tendo um grande destaque por aqui e devido a isso, para já, o realce é dado aos melhores do ano nesta área. Como é lógico tratam-se sempre de listas muito subjectivas, no entanto, quanto a esse assunto será publicado um texto com algumas reflexões.
Assim, no âmbito desta edição especial, fica aqui um destaque a alguns blogs que seguem atentamente, com espírito crítico, o que se vai produzido na área da música e que certamente também irão apresentar em breve as suas listas e convidar os seus leitores a fazerem o mesmo. Isso porque parte da excitação estará sempre na descoberta de algo gratificante no meio de tanta oferta, e os críticos sabem isso melhor que ninguém.

.....::::: r.b.S :::::.....
big black boat
coisas do puto e do tipo

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Impressionou (05)

"The Woods" by Sleater-Kinney

Não conquistou à primeira, nem sequer à segunda audição, se bem que “The Woods” de Sleater-Kinney revelava aos poucos e poucos uma série de elementos que faziam com que a audição se fizesse uma vez mais. E as audições foram-se fazendo uma após outra até que se conseguiu, por fim, ter uma percepção global da obra e chegar-se à conclusão que um dos álbuns mais honestos de 2005, dentro do universo exclusivo do Rock, dá-se a revelar dessa forma. Com Rock sem “N’Roll”, guitarras sem açúcar e uma bateria crua e imparável; o trabalho reúne em si toda a rudeza dos instrumentais que podem caracterizar o género, intercalados com a sensibilidade das vocalizações dos três elementos que constituem o grupo, Carrie Brownstein, Janet Weiss e Corin Tucker, que com grande precisão demonstram a sua versatilidade nesse campo. E tudo culmina num desfecho desconcertante graças à vulnerabilidade e lucidez da canção que encerra o álbum.
A carreira de Sleater-Kinney já vai longa, nota-se um “saber fazer” acumulado, com a experiência apreendida, na feitura desta obra (a sétima do grupo). Assim sendo confie-se nelas, ponha-se uma venda nos olhos e corra-se em direcção a uma floresta numa noite fria de Inverno; em quantos mais obstáculos embatermos, continuando sempre persistentes no objectivo de nos entranharmos cada vez mais no seu seio, com a convicção de encontrar algo precioso; mais próximo se ficará do universo que este álbum encerra. (8,5/10)